Tomei conhecimento do campo arqueológico da Mata da Machada e dos seus fornos cerâmicos no curso de faiança do século XV a XVIII decorrido no centro de arqueologia em Almada. Esta olaria da Mata da Machada permitiu elaborar as tipologias que faltavam até à segunda metade do século XVI , quando são introduzidas no mundo urbano as modas italianizares e quase em simultâneo as cópias das porcelanas orientais" .
Tanta vez em rota de passeio o caminho ao longo do esteiro do rio de Coina a caminho da Moita, com a placa sinalética à direita em frente da Base dos Fusileiros, mas sem nunca ainda ter parado para o descobrir, mais para a primavera.
Em 1980 uma descoberta fortuita alertou para a existência de vestígios que indiciavam um centro produtor oleiro . Em 1981 realizou-se a primeira escavação arqueológica dirigida por Cláudio Torres que, numa área com cerca de 1000 m2 pôs a descoberto um forno cerâmico dos séculos. XV/XVI.
Este local foi escolha por beneficiar de recursos naturais, como a argila e lenha e, ainda, da proximidade com o rio Coina, que permitiam um escoamento rápido das produções oleiras.
A localização da olaria da Mata da Machada na freguesia de Palhais no concelho do Barreiro explica-se pela grande abundância de lenha, combustível necessário ao aquecimento dos fornos e pela existência de matéria-prima no local: a argila. Situada numa imensa mata de pinhal, de jurisdição real desde o século XIV- certamente para o fornecimento de madeira e resina para a construção naval e para as casas dos seus habitantes, então na época o único material combustível ( sendo que o gasto era tanto que escasseava em Lisboa e com isso o povo se revolta, tendo o rei mandado encerrar a fábrica de vidro de Coina sendo transferida para a Marinha Grande, onde havia o pinhal de Leiria e areia, essencial para o seu fabrico) a lenha servia também para alimentar com lenha e carvão a fábrica de biscoito de Vale de Zebro e ainda as minas de azogue - o complexo oleiro da Mata da Machada, com a sua fonte de água doce a escassos metros e um embarcadouro, reunia as condições que o tornaram durante muito tempo um importante fornecedor de Lisboa.
Na olaria da Mata da Machada se produziam utensílios. O espólio cerâmico proveniente da escavação desta olaria divide-se em duas grandes tipologias: louça de uso caseiro e peças de uso industrial, cerâmica vidrada e por vidrar:
Na primeira categoria integram-se as panelas, candeias, malgas, tigelas, escudelas, copos, pratos, caçoilas e peças de armazenamento de maiores dimensões como cântaros, alguidares, talhas e potes a par de pesos de rede, telhas e tijolos para a construção.
Citando o autor da brochura Cláudio Torres - "O barril, cuja forma até então é desconhecida, teria como função o armazenamento de água fresca durante as longas viagens marítimas."
Barril e placa ou forma de biscoito - placas de variados tamanhos ,cuja utilização deve estar relacionada com uma tradição ainda hoje viva nos Açores ( o bolo de pedra, o bolo de tijolo ou o bolo do Pico, em que a massa de pão é espalmada e cozida sobre uma placa de cerâmica assente num fogareiro. Seria, talvez, uma das maneiras de fazer pão durante as longas travessias marítimas, e que perdura na tradição insular "
O bolo do caco na Madeira
O bolo do caco é um pão de trigo típico da Madeira e Porto Santo. De origem árabe, este pão, elaborado à base de farinha de trigo, é achatado e de bordas arredondadas.O seu nome deve-se à forma como, até há bem pouco tempo, era cozido: numa pedra de basalto, denominada “caco”, sobre brasas escaldantes.
Hoje em dia, utiliza-se a chapa de ferro aquecida por gás industrial, em detrimento do caco de pedra.No passado, muitas vezes este pão era feito somente para aproveitar o resto de uma amassadura de pão de casa.
Nesta olaria foi descoberta ainda uma tipologia cerâmica, identificada na época como “forma de biscoito”, a qual serviria para fabrico deste produto nos fornos de Vale de Zebro, para serem levadas nas caravelas para a descoberta de novos mundos.
"A panela o recipiente com uma longa história na cozinha ibérica e cuja evolução formal continua nesta época, de linha iniciada em finais do século XII."
A malga é um novo modelo originário da Andaluzia que se generaliza entre nós a partir de finais do século XIV, com este nome,certamente herdado da cidade de Málaga." A tigela diminui de tamanho adaptando-se a uma nova função individual na mesa do respasto, perdendo a grande dimensão, de onde todos comiam
( sendo que no século XX ainda no nosso país, nas beiras em ambiente rural os filhos picavam todos da mesma bacia ou palangana). Aparece a escudela de orelhas, o prato e o copo."
Pequenas taças ou copos azados e na direita malgas
Tigelas e na direita copos
As candeias de azeite
Forno
"Forno cerâmico fabril, construído segundo o processo de construção da alvenaria com ligação de argamassa, com interiores abobadados e bocas em arcos quebrado, apresenta uma cronologia entre 1450 e 1530. Faz parte de uma olaria da qual apenas foi escavado um forno na década de 80.
A "zacara da terra dos sarracenos" França do sul, século IV
"O espólio cerâmico proveniente da escavação desta olaria divide-se em duas grandes tipologias: louça de uso caseiro e peças de uso industrial.
Na primeira categoria integram-se as panelas, candeias, malgas, tigelas, escudelas, copos, pratos, caçoilas e peças de armazenamento de maiores dimensões como cântaros, alguidares, talhas e potes. Também se fabricavam telhas e tijolos para a construção.
A segunda categoria de peças é maioritariamente composta por um tipo de artefacto industrial: as Formas de Purga do Açúcar, ou “Pão de Açúcar”."
Na primeira categoria integram-se as panelas, candeias, malgas, tigelas, escudelas, copos, pratos, caçoilas e peças de armazenamento de maiores dimensões como cântaros, alguidares, talhas e potes. Também se fabricavam telhas e tijolos para a construção.
A segunda categoria de peças é maioritariamente composta por um tipo de artefacto industrial: as Formas de Purga do Açúcar, ou “Pão de Açúcar”."
Julgo que no Museu de Alcácer do Sal existe um exemplar de forma pão de açúcar(?)"A segunda categoria de peças é maioritariamente composta por um tipo de artefacto industrial: as Formas de Purga do Açúcar, ou “Pão de Açúcar”, a peça mais fabricada neste forno e destinada à exportação para os engenhos açucareiros insulares.
Do lado cristão, a primeira referência surge em 1366, em que um pão de açúcar é inventariado entre os bens da Ordem de Avis- o que mostra bem a sua raridade(Dias Arnaut).
Formas de açúcar semelhantes às da Mata da Machada foram assinaladas em Barcelona reempregues no enchimento das abóbadas da Santa Maria Del Mar e fabricadas, pelo menos, em meados do século XIV em Oliva junto a Valência.A partir de 1466, o infante D. Fernando dá um impulso decisivo à indústria açucareira da Madeira.Em 1501 sabe-se da existência de umas formas grandes consideradas prejudiciais à purgação pelo que o rei recomenda que sejam todas iguais e que para tal fosse fornecida uma bitola aos oleiros do reino, de modo a que 6 pães de açúcar pesem uma arroba.
A toponímia é marcada perto da Moita com o nome Pinhal das Formas.
"Em estudos recentes admite-se ter funções completamente distintas destas. As peças consistem em placas de barro de forma circular, com dimensões diversas. Tais artefactos constituiriam utensílios de olaria denominados “Pratos de Torno”, sobre os quais o oleiro fazia as peças e transportava-as para o local de seca, antes de entrarem no forno e serem cozidas. Esta é ainda actualmente, decorridos que são mais de vinte anos sobre a realização da primeira campanha arqueológica, uma das poucas olarias conhecidas dos séculos XV e XVI, o que atesta a sua importância no contexto nacional.
Recentemente foi posto em evidência um local que pode levar à descoberta de um novo forno de arquitectura industrial, manuelina." Supostamente construído após o terramoto de 1755 que destruiu Coina e os fornos do biscoito de Vale Zebro, que teriam sido reconstruídos com arquitetura manuelina, e aqui na mesma (?).
Recentemente foi posto em evidência um local que pode levar à descoberta de um novo forno de arquitectura industrial, manuelina." Supostamente construído após o terramoto de 1755 que destruiu Coina e os fornos do biscoito de Vale Zebro, que teriam sido reconstruídos com arquitetura manuelina, e aqui na mesma (?).
Fontes
http://www.cmbarreiro.pt/
http://memoriaefuturo.cm-barreiro.pt/
http://www.monumentos.pt/
https://www.geocaching.com
Brochura editada pela câmara do Barreiro
http://nomundodasescolhas.com/
Querida Misa,
ResponderExcluirTenho andado sumido. Mil coisas entre viver e fazer.
Mas meu sumiço de seu querido blog é porque minha máquina toda bichada e movida a vapor não o abre simplesmente. Só vejo os cabeçalhos dos posts em minha lista de leitura. Hoje estou na casa de um amigo mas não dá para atualizar minha zerar minha dívida. Então faço ao menos o que é mais importante: desejo um feliz Natal e abençoado Ano novo porque a bondade e o bem querer são para todos os dias e toda a vida...
Um abração.
Vou ver se atualizo uns posts, consegui uns pratos bem legais. Minha última postagem foi de umas imaculadas.
ab
Caro Amarildo
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho da mensagem e pelos votos de bom ano novo,que retribuo para si.
abraço