Encontrei-o prostrado num estaminé de chão na feira de Montemor o Novo - senti que o colega - Sr Carlos me ludibriou - acha-me com cara de dinheiro! A doidice da compra já vinha de casa, ao chegar à feira soube que o Sr Orlando estava no hospital - coitado do "cigano", e de mim que me convenci que ele me trazia o prato com o Peixe que há meses deixou cair do tripé - lindíssimo em cores claras talves Vanderlli igual antes já vira outro maravilhoso por 200€ ...fiquei triste pela maleita que o acometeu, também por não o trazer - tal transtorno estrangulou-me o raciocínio - estive com poucas modas no regateio quando encontrei mais acima este - não sendo o meu favorito remediou a minha amargura naquele dia de grande expetativa!
Tardoz com evidencia de escorridos do esmalte. Possivelmente fabrico dos finais do século XIX início de XX.Na foto abaixo nota-se o escorrido do esmalte que falei.
Apresenta um "cabelo" com decoração em policromia com um peixe ao centro em duas tonalidades:verde e amarelo, linhas em manganês a imitar guelras, e o olho de sobrancelha arregalada - barbatanas a ocre - à sua volta estrelas em azul. Aba em estampa de flores: amarelo ocre e azul e motivo geométrico de chapa recortada em manganês.
Tenho muita dificuldade em atribuir a origem de fabrico deste prato tal o mesmo se aplica à travessa que adquiri há tempos.O vidrado é igual. Agora saber a sua origem? A travessa com folhagem fina evidencia fabrico de Coimbra (?) ou norte - constato uma delicadeza na pintura - sem dúvida. O que me intriga é mesmo a cor rosada do vidrado que no caso da travessa ainda se acentua mais na aba impregnada no martelado da massa . A fábrica CAVACO em Gaia pintou este motivo - aparecem muitos pratos pequenos - acredito muitas outras fábricas seguiram o mesmo desenho - Aveiro, Bandeira ( num prato abaixo o olho do peixe é igual), e outras pelo norte.
A minha intuição diz-me poder ser fabrico CAVACO - em tempos vi uma travessa assinada com o mesmo vidrado...desenho do olho... tonalidade em manganês.
A minha intuição diz-me poder ser fabrico CAVACO - em tempos vi uma travessa assinada com o mesmo vidrado...desenho do olho... tonalidade em manganês.
Cortesia do conhecimento do Jorge Saraiva um assíduo comentador e bom amigo - passo a transmitir, muito engrandece este post sobre a dúvida que levantei - aspeto rosado
"A faiança mais fina (séc. XIX e início do XX) era chacotada ou biscoitada, ou seja, após a conformação era seca, cozida, posteriormente vidrada, e decorada em cima do vidrado cru ou cozido com decalques e/ou tintas de baixo fogo. A faiança mais grosseira (alguns pratos de maior espessura e as palanganas, por exemplo)eram manufacturadas em monocozedura, ou seja eram conformadas, secas, vidradas e pintadas sobre o vidrado cru - de seguida cozidas, em forno a lenha, pois claro.Uma coloração mais rosada de uma peça -, é uma característica de peças de monocozedura que não atingiu a temperatura de cozedura adequada -, não tendo a pasta desenvolvido a coloração branca -, o normal é o vidrado ficar mate (não brilhante). Portanto essa coloração não tem a ver com a cor do vidrado mas sim do suporte cerâmico. Os vidrados dessa época eram como os que apresenta, desenvolviam opacidade (para tapar a coloração da pasta) e brilho -, eram à base de óxido de estanho (opacificante) e de óxido de chumbo (zarcão) para desenvolver o brilho. As caixas refractárias onde eram colocadas as peças para as proteger dos gases e facilitar a enforna das peças nos fornos a lenha também impediam uma homogeneização da temperatura dentro do forno tal como a própria medição da temperatura era a "olho" (olhavam para dentro da cúpula do forno quando estivesse de cor laranja límpido, deixava-se de colocar lenha. Ora a lenha, o forno, as caixas, etc, davam origem a diferenças de temperatura que poderiam ser superiores a 40ºC - o que fazia que em cada fornada saíssem peças óptimas e brilhantes, bem como peças com vidrado fervido, outras tortas (pelo excesso de temperatura), ainda peças baças, e rosadas (por não terem atingido a temperatura óptima).
Portanto -, discutir e comparar cores e texturas de vidrados (e a intensidade das cores da decoração) para deduzir a proveniência de uma peça comparando com outras pode levar a erros visto que em cada fornada saiam sempre peças com características diferentes.
Espero ter contribuído para aumentar a "confusão" ou "discernimento" da proveniência da faiança antiga..."
Fábrica Cavaco de Gaia apesar de não estar assinado ninguém tem dúvidas |
Viúva Lamego assinado |
Museu Arte Popular - Fabrico do Minho |
Foto retirada de leilão Fábrica Bandeira ? Vou continuar a procurar mais elementos de sustentabilidade para atribuição segura do seu fabrico. |