quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Cabaz de verga branca

Cabaz de verga branca
Herança do meu marido. Ainda guardador de sonhos...gosto de olhar para ele e perder-me a deambular em sonhos...muitos sonhos!
Terá mais de sessenta anos. O bicho comeu-lhe um pé, não parei nem descansei enquanto o meu marido não me fez um novo com vime que ao ribeiro fui buscar ao salgueiro.
Parece novo, dei-lhe um jeito com verniz depois de ter posto cuprinol para matar o caruncho. Tantas vezes viajou na camioneta desde a paragem no Bairro aos Portelanos até Lisboa de parelha com outro que ficou para a irmã. Cheio a arrebentar as presilhas, uma mais tarde substituída por um cordel, só para não abrir e alguém esgueirar a mão e surripiar qualquer coisinha...Só coisas boas a lembrar a aldeia no sopé da Nexebra. Chouriças, morcelas com cominhos, feijão da velha, azeite, azeitonas retalhadas, queijos Rabaçal, nozes,laranjas, uma mão cheia de tremoços demolhados no poço, adoçados...
Os sabores inesquecíveis ouvia dizer...acredito!
Ainda um tapete feito de trapos no tear artesanal da Ti Joaquina em cores vivas, que teimei em guardar, o que me lembro das histórias dela e dos namoricos que a minha mãe sempre me contou...

7 comentários:

  1. Olá Isa
    Sabe que também gosto de cestaria? :)
    Este cabaz é muito bonito, parece que se lhe adivinham umas tampas meias arqueadas...melhor pensando, têm que ser mesmo arqueadas, para facilitar o acondicionamento da comida,que se transportava nos tempos de antanho.
    Quando li as suas memórias, mais uma vez, não pude deixar de viajar até à minha infância e recordar-me de um dos típicos cestos angolanos designados por "qualos", ou kualos. Se tiver paciência espreite no link que lhe deixo em baixo e poderá vê-los.

    http://www.mazungue.com/angola/index.php?page=UserGalleryPhoto&photoID=278

    Mas voltando aos nossos cestos. Tenho cá em casa um muito antigo,que me foi oferecido por uma amiga já muito idosa.Tem tampa abaulada e é muito bonito, mas tem as iniciais da antiga dona pintadas a tinta.Tenho pena, pois por isso, está guardado numa arrecadação, o que é um desperdício...
    Um abraço e continuação de uma boa semana
    Maria Paula

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  2. Sabe, M. Isabel, aqui na Bairrada estes cestos estão muito associados às romarias, pois era neles q se levavam os farnéis, sobretudo para a romaria do Dia da Ascensão no Bussaco. Iam grupos de romeiros a pé, de toda a Bairrada, e as raparigas levavam estes cestos à cabeça com o farnel, enquanto os rapazes iam a tocar concertina e outros instrumentos. Na volta traziam-nos enfeitados com flores de papel, talvez oferecidas pelos rapazes, o q está muito bem retratado numa pintura belíssima de Fausto Sampaio q era natural de Anadia.
    Eu tenho um cesto destes mas é mais avermelhado e tenho lá uma flor de papel... :)
    É bom recordar estas tradições!
    Beijos
    Maria A.

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  3. Obrigada Maria Paula pelo seu comentário.
    Bom, sabe-la apreciadora da cestaria . Também tem um exemplar parecido com as iniciais da antiga dona. Sabe que isso era comum. O meu pai nos Poceiros, cestos grandes da vindima de verga escura, marcava-os com a ajuda de uma tira de lata em folha de Flandres feita no latoeiro com as suas inicias FV, depois punha-a junto à aba e pintava. Este meu, e o outro par tinham uma etiqueta presa na asa com o nome e morada.

    Vou ver o link que mencionou. Sempre estive ligada a África pelos tios que lá moraram em Luanda.Nas minhas memórias escrevi a 1ª vinda deles tinha acabado de fazer 5 anos, com eles fui ao S.João ao Porto num carro novo, estreei a saia que vesti na modista. Não esqueço o que trouxeram. Sacos de 5 Kg de serapilheira com açúcar refinado, por cá só havia amarelo, outra com café, esquecer o aroma, nunca, latas redondas de goiabada e os tecidos tipo lycra em relevo de cores fortes, estreei tantos de todas as cores, ainda a escultura em pau preto de bustos que a minha mãe ainda guarda com a certeza de darem sorte, dos postais com mulheres com os filhos às costas e uma montanha de colares coloridos ao pescoço, ainda as prendas compradas nas Caraíbas e Madeira, serviços de café,bonecas e...Não tinham filhos, esta tia em especial Rosária do meu signo muito parecidas somos em obsequiar. Ela trazia tudo igual para cada irmão e sobrinho.
    Perdia-me agora a falar de Angola, sem contudo nunca lá ter ido...
    Bom fim de semana
    Beijos
    Isabel

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  4. Olá Maria Andrade, obrigada pelo seu comentário.
    Gostei do relato da romaria no dia de Ascenção ao Buçaco. Interessante esta parceria de informação,na minha zona, relativamente perto, usava-se uma cesta larga de verga branca de aba baixa, coisa de 30 cm, também tenho uma desses tempos que se levava à cabeça para os piqueniques na serra ou almoçar no dia 15 de Agosto na festa de Pousaflores, as encostas defronte do adro a "Chosa" de carvalhos frondosos albergava ranchos de famílias esticados em mantas de trapos com garrafões de vinho e cestas onde não faltava a leitoa assada em casa no forno em espeto de loureiro, nesse dia imprescindível. No tempo da minha mãe a fogaça que as irmãs mais velhas levavam à cabeça, um tabuleiro engalanado com papel recortado igual aos que ainda são a tradição em Tomar. Ficou de recordação uma foto à la minut com o tabuleiro no chão maior que a minha mãe ao seu lado...

    Perco-me a falar, adoro vergas, cestos e cestas.
    Conheço o seu cabaz em tom tijolo, muito típico também, esse sim era mais usado no dia a dia. A verga branca na altura considerada mais fina não era usada no dia a dia, tinha fins mais requintados, transporte na carreira , festas e romarias. Gentes pobres mas vaidosas. Na herança apreciei bem a diferença de tudo o que havia em branco e escuro.

    Adorei quando disse"tenho um avermelhado e tenho lá uma flor de papel", tanta sensibilidade...
    Ainda falou no pintor da Anadia Fausto Sampaio que fielmente retratou essas romarias. Digo eu, com pena fico do Mestre Malhoa, viveu 50 anos em Figueiró dos vinhos, durante muitos anos passava o mês de Setembro na Quinta de Cima em Chão de Couce no concelho de Ansião, tantas tradições rurais retratou na tela e esta não, porque se passava em Agosto.
    Desculpe se exagerei...
    Bom fim de semana
    Beijos
    Isabel

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  5. Maria Isabel

    Bonito o seu cesto de verga. Quando olho para estas peças fico sempre meio triste a pensar que devem estar a morrer as últimas pessoas que fazem estes trabalhos de forma autêntica. Na aldeia do Manel, perto de Pombal, há um velhote alquebrado, que por vezes está à beira da estrada a fazer cestos de verga. Quando passo lá de bicicleta, penso sempre que lhe deveria comprar um cesto e desisto sempre, porque na minha casa não cabe nem mais uma agulha. Um dia, quando me resolver a comprar o cesto o senhor já terá morrido e com ele a sua arte.

    Beijos

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  6. Olá Luís, obrigado pelo seu comentário.
    Sabe que mais, é como diz, também eu passava de carro na aldeia de Almofala rez vez Chão de Couce, via na beira da estrada um velhote a fazer vassouras de painço,lembranças da minha infância, pensei em lhe comprar uma para decorar o canto da lareira virada para cima. Quando me decidi, o senhor já não estava lá...

    Se um dia destes se resolver comprar um cesto, uma ideia, no quarto da sua filha,com brinquedos, bonecas, será sempre uma boa recordação.

    Não resisto a dizer que quando a minha filha trabalhou em Odemira conheci um cesteiro de 82 anos,lhe pedi de encomenda um cesto redondo com tampa que a minha filha logo desviou para a sua mansarda de Alfama,não tem espaço nenhum, no chão do quarto esconso é guardador dos pijamas. Ainda lhe comprei outro grande tipo pote que vou um dia destes aqui postar

    Bom fim de semana
    Beijos
    Isabel

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  7. Maria Isabel

    Na minha casa, as paredes já estão cheias e já tenho coisas no tecto(juro!). Um dia mostro aqui no blog.

    bom fds

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