Na feira de Algés uma vendedora conhecida, a D.Fátima, a quem agradeço a gentileza e dedico esta crónica temática, pois foi graças a ela que a mesma foi possível, quando me abeirei da sua banca falou-me que trazia uma travessa para me mostrar, sabendo do meu gosto de estudar a faiança, ainda me disse que andou a pesquisar tendo dúvidas se seria Miragaia ou Monte Sinai (?), por estar marcada com "P,". Logo eu que tenho o hábito de passar logo pela manhã...e ontem, por estar meio indisposta passei mais tarde. Contudo disse-me a quem a tinha vendido, logo meti pés ao caminho e pedi ao novo dono para a fotografar, apesar de usar o telemóvel as fotos não se revelam de qualidade, o sol estava a pique, dando ênfase ao interesse mayor da partilha, por ser peça marcada, e sendo raras, o seu grande interesse.
Imagem desfocada, a possível sendo que as outras ainda ficaram piores, infelizmente não mostra o realce das cores, nomeadamente do azul cobalto no contraste com a cor de vinho, o manganês.
Travessa de alto covo de aba relevada e recortada, decorada com a faixa de Ruão, ao centro pequeno motivo campestre encimado por flores.
Pintura em policromia azul e manganês vivo.
Esmalte anilado.
Fabrico em barro rosado, disso é bem visível nos arrepiados e buraquinhos, por conter matéria plástica, de textura pesada, esmalte craquelê.
Partida e gateada com 14 "gatos", e marcada a azul com "P,"sob traço em rodapé
No primeiro impato pode catapultar para fabrico norte- Miragaia, mas esta marca não consta do Livro da Fábrica.
Consultei o Livro Cerâmica Portuguesa de José Queiróz e no Dicionário de Marcas descobri uma marca muito semelhante, na substancial diferença apresenta duas virgulas-, uma antes e a outra como aqui depois do "P" e ainda o "P" na semi órbita da letra tem um traço direito.
Marca atribuída à Fábrica Nacional do Porto OU Fábrica do Cavaquinho em Gaia.
Consultei no mesmo Livro o que se escreveu sobre as duas fábricas e conclui que a peça pode eventualmente ser atribuida à Fábrica Nacional, sediada no Porto que abriu portas pelo menos uma dúzia de anos antes do Rato em Lisboa, em detrimento da Fábrica do Cavaquinho que foi comprada por Domingos Vandelli quando a sua fábrica do Rossio de Santa Clara foi incendiada pelos desertores do Buçaco e se deslocou para Gaia fazendo a compra da mesma. Diz no Livro que a Fábrica Nacional cuja data de fundação não se sabe- 175... sobre a decoração-, a faixa de Ruão, a azul e cor de vinho. A pintura é delicada, a forma elegante, boa a moderação, perfeito e brilhante o esmalte.Diz ainda que menciona as marcas F.R.P ( FÁBRICA REAL PORTO tal como a do CAVAQUINHO e supostamente por isso os autores dividem a atribuição no Livro entre as duas fábricas(?).
Faltou dizer o peso das peças- esta travessa é pesada
Faltou dizer o tipo de barro usado - nesta peça é rosado, mistura de branco com vermelho
Faltou dizer se o esmalte se mostrava craquelê - como se revela na peça
Mas também no Dicionário de Marcas aparece referência a um "P" com pontos, antes da letra e depois desta, sobre traço em rodapé pintado a azul, atribuído fabrico a LISBOA aos princípios do séc. XVIII.
Pouco, quase nada se sabe da Fábrica Nacional do Porto, a quem com grande probabilidade se poderá atribuir(?). Nem se sabe quando encerrou portas(?). Pelas duas fotos de outras peças mostradas no Livro eram especialistas em relevar as peças e o pintor era sábio na mestria da pintura, a cor de vinho que chamo manganês é requintada e minuciosa, com arte.
Mas o peso da peça- pesada e de barro rosado?
Por ser abundante em Lisboa, de primeira qualidade, o barro branco que se exportava para Gaia, mas também existiam barreiros de vermelho na zona das olarias na Almirante Reis e na zona do Lumiar, que a Fábrica Viúva Lamego sempre usou para azulejos e peças de faiança, entre outras.
Ainda acrescento que existiu no norte um Policarpo de Oliveira, pintor de azulejos e faiança(?) a azul e assinava com esta cor com "P" e um acento circunflexo antes da letra e outro após.Ao meu olhar a travessa pelo peso, textura, de certa forma grosseira, poderá ser atribuída aos meados ou finais do século XVIII (?), gateada há mais de cem anos(?), com os ferros bem antigos nitidamente a se desfazerem em ferrugem, poderá ser atribuído o seu fabrico a uma fábrica sediada em Lisboa (?) em dúvidas como ostenta a marca "P" à partida remete facilmente para fabrico do Porto- matéria para os especialistas deslindarem. Julgo a peça veio de casa do Alentejo de família abastada que tinha uma rica e variada coleção em faiança (?).Porque a cor do barro, rosado, e decoração , faixa de Ruão, foi usada por várias fábricas.
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