A decoração apresenta-se toda preenchida com motivos em esponjado em policromia ( ocre, vermelho, azul e verde esbatido seco) , e o rebordo pintado a franjado em azul forte.
À primeira vista aventa o centro de produção como sendo de Aradas Aveiro (?), onde até há poucas décadas se pintaram deste modo muita loiça utilitária.
A vendedora no pregão dizia que era Corticeira, Porto (?), apesar de não ostentar qualquer marca. E pode ser, quem o sabe (?), apesar de jamais ter visto alguma assim em esponjado marcada desta fábrica.
A produção massiva desta decoração de esponjados supostamente se estendeu junto ao litoral na zona de Aveiro (?), pela utilização de esponjas do mar, de onde lhe advêm o nome.Alguns exemplares de esponjados de Coimbra (?)
O tardoz da travessa mostra uma textura da massa de maior heterogeneidade em misturas, sendo que as peças atribuídas a Aveiro, de um modo geral se apresentam de textura mais homogénea e muito brancas, também pelo franjado que aqui se mostra mais miúdo, noutros casos se mostra por filete largo em azul, ou até na mesma com os bicos em azul como em Aveiro, variantes de peças derivado da quantidade de olarias familiares que era nesta zona de Aveiro muito elevada.
O fabrico da minha recente travessa será dos meados do século XX.Recordo de as ver nas tabernas dentro dos mosqueiros, com petingas ou carapaus fritos, bacalhau albardado ou iscas.
Citando http://mercadoantigo.weebly.com/corticeira.html
"No Itinerário da Faiança do Porto e Gaia, publicado em 2001 pelo Museu Nacional Soares dos Reis, dedica-lhe este curto parágrafo: "Desta fábrica quase nada sabemos, apenas que teria ficado a laborar em parte das instalações abandonadas (em 1923) pela fábrica do Carvalhinho, na (Calçada e Rua da) Corticeira, sob a direcção do industrial António Silva, passando posteriormente a um funcionário, António Pereira da Silva." A data de início da sua laboração é desconhecida, devendo no entanto notar-se que nem o opúsculo Cerâmica Portuguesa(1931), integrado na colecção Patrícia dirigida por Albino Forjaz de Sampaio (1884-1949), nem a conferência de um especialista na área, J. T. Ferreira Pinto Basto (1870-1953), intitulada A Cerâmica Portuguesa, proferida em 20 de Dezembro de 1934 e publicada no ano seguinte, mencionam a existência desta fábrica. Terá no entanto laborado desde finais do Séc. XIX ate meados dos anos 60."
Incrível no livro de José Queiroz " A Faiança Portuguesa" fala de uma fábrica de Quebrantões que ficava na frente da Corticeira e depois desta nada fala!
Há no entanto um homem que veio de Aveiro para Gaia trabalhar e trás a decoração dos esponjados.Vou ter de procurar para vir acrescentar.
Sendo que há um justo apreciador e conhecedor desta matéria, o meu bom amigo Jorge Saraiva da Oficina da Formiga, por ter nascido , vivido, e ainda convive com mestres e artistas pintores de Aveiro, se tiver a sorte que veja este post vai ditar a sua sentença.Há quem afirme que os círculos eram feitos com rolhas, lembra logo a cortiça e o nome da fábrica(?) , uma teoria errada, segundo o meu amigo JS " da Fábrica Corticeira, não conheço qualquer característica dos produtos produzidos, mas no entanto, nunca ouvi falar no esponjado com rolha e acho estranho pois os efeitos de marcação de tinta com rolha ficaria borratada. O que é/era normal fazer, era enrolar a esponja do mar , de modo a esponjar em formato de bolinhas e no bordo da peça bater a esponja, previamente cortada em forma de triângulo para dar o feitio observável no bordo na maioria delas. No cento era aleatório, dependendo do pintor/decorador. Temos de nos situar à época, e à necessidade de produzir louça barata e esta decoração podia ser feita por qualquer um, até mesmo crianças. No entanto, pelo que estou habituado a ver, as peças das fotos 10, 12 e 14, não parecem ser de Aradas-Aveiro (?), ou seja, são pouco usuais a sua atribuição a esta zona, mas como existiam muitas pequenas unidades ou oficinas cerâmicas e como se copiavam nas formas e nas decorações (também pela mobilidade dos pintores), poderá ser da nossa zona...
O busílis seria distinguir se o fabrico seja Aveiro ou Cortiçeira(?), sendo que na verdade também nunca vi nada marcado Cortiçeira neste motivo, e o que conheço, estampa cavalinho, não é fabrico de grande qualidade, seja da massa grosseira e o esmalte, baço.
Para melhor apreciação aconselho a rever o Blog que menciona esta temática
http://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/saladeira-falante-com-decoracao-de.html
Por apreciar bastante o seu autor, que acredito deleita os amantes desta temática com amostragens simpáticas, graciosas e didácticas, sempre bem exploradas pela exausta pesquisa, mas neste caso se me permite a emenda, seja a ressalva de usar o termo mais correto- assadeira de ir ao forno ( nome que o povo chamava e ainda chama às de cerâmica vidradas, negras ou de faiança, em detrimento do nome usado de saladeira, que serve para servir saladas), a peça curiosamente ao meio apresenta um travessão relevado, isto evidencia fabrico de molde feito em fábrica que veio a ser usado pela SP de Coimbra e a Vista Alegre, terras mais perto de Aveiro, e para onde se deslocavam artistas quando as olarias onde trabalhavam fechavam portas, ou na procura de maior salário, atendendo à sua arte, a de pintar uma delas.
Fabrico de Aradas Aveiro(?)
Contraste com uma saladeira falante da minha coleção sem marca que acredito piamente ser fabrico de Aradas Aveiro(?), decoração de raminhos e flores, supostamente copia duma semelhante pintada pela Fábrica do Outeiro em Águeda.
Resenha histórica das Aradas
"Em 1923, Manuel Gonçalves da Vitória constrói em Aradas a primeira fábrica de louça branca. Contudo ao longo da década de 30 apareceram ainda as fábricas de louça de João Vitória e João Moreira. Esta louça era chamada de "barro branco churro". Ainda na década de 30 do século XX havia, só nas freguesias de Aradas, no lugar da Quinta do Picado, dezanove olarias em funcionamento. Eram pequenas empresas familiares, onde normalmente todos os membros da família trabalhavam, incluindo as crianças. Se tinham empregados, estes raramente ultrapassavam os dois ou três. Nestas olarias fabricavam diversos objectos de louça vermelha ou preta, que eram depois, directamente ou recorrendo a intermediários, vendidos nas feiras e romarias das redondezas.São estes os representantes das novas e velhas dinastias de oleiros de barro de Aradas.Referenciadas nos registos paroquiais, haveria cerca de uma dezena de famílias de oleiros, nomeadamente, as famílias Balcão, "Canceição" (ou Conceição), Ferreira, Génio, Lopes, Marabuto, Martinho, Oliveira, Salgueiro e Vitória. Posteriormente, nas décadas de 50 e 60 aparecem as " Faianças da Pinheira" e "Faianças da Capoa". Estas fábricas utilizavam a faiança (louça de barro poroso, opaco, vidrado ou esmaltado e pintado). A partir desta altura começaram a desaparecer as olarias: as fábricas absorviam a mão-de-obra, o trabalho era menos duro e os operários cumpriam um horário de trabalho determinado ao contrário das olarias em que o trabalho era realizado de sol a sol. Fica desta forma concretizada a importância da manufactura de peças em barro preto para o desenvolvimento de Aradas durante os últimos 200 anos, e para não esquecer a manufactura do passado, permanecem vivas as artes de Olaria através de vários artesãos que ainda existem na Freguesia. A última olaria de Aradas fechou as suas portas em 1996"
Voltei à ladra e comprei este prato falante, eventualmente fabrico de Aradas Aveiro (?), pelo tardoz que se apresenta muito branco, no entanto a decoração é semelhante à da travessa inicial e o mesmo do franjado.
E ainda vi esta Aveiro ou da região ? Peça muito bem decorada, com boas cores
Mostra de outras peças da minha coleção cuja pintura se mostra semelhante à travessa em foco Aradas Aveiro(?)
Aveiro ou da região?
Aradas Aveiro (?)
Tacinha com o rebordo em filete na vez dos tradicionais bicos ou franjado Aveiro ou ?
Peças que o JS se refere não serão Aradas(?) provavel de outras olarias da região
Agradeço a amabilidade da cortesia da visita e do comentário do meu amigo Jorge Saraiva que gentilmente como de costume deu nos deu mais uma lição sobre esta temática, que muito enriquece o post e os amantes da faiança. Ainda acrescenta "Se entretanto obtiver mais alguma informação, terei muito prazer em a partilhar."
FONTES
http://www.jf-aradas.pt/index.php?p=aradas&d=6
http://mercadoantigo.weebly.com/corticeira.html
http://velhariastralhasetraquitanas.blogspot.pt/2015/04/saladeira-falante-com-decoracao-de.html
Cara Isa Coy,
ResponderExcluirParabéns pela sua interessante postagem, que cria um salutar debate e incentiva a pesquisa na procura de se saber algo mais sobre a origem do fabrico destas peças.
Comungo totalmente consigo que o indicar-se; à priori, que qualquer qualquer peça em faiança com esponjados, especialmente os com círculos, efectuados com rolhas, logo se associa a fabrico da Fábrica da Corticeira, do Porto: creio que já é um mito! Alguém um dia disse e escreveu e depois, com frequência e de forma continuada se continua alimentar esse pressuposto!
Na verdade da Corticeira, muito pouco ou quase nada de sabe, e efectuar de ânimo leve tal atribuição de fabrico a essa fábrica é algo "leviano".
Igualmente concordo consigo, que a peça que apresentei será mais uma assadeira que uma saladeira, pelo que irei colocar a devida nora correctiva na postagem que efectuei.
Que bom seria que o Jorge Saraiva nos pudesse ajudar nesta dúvida que persiste em todos nós!
Continuemos a estudar estas peças e a tentar desvendar a sua origem - é a sugestão de remate que deixo.
Cumprimentos, Cara ISA.
Caro Jorge Amaral muito obrigado pela cortesia da visita e pelo comentário sempre atencioso e carregado de informação.Não temos outro remédio senão o de mostrar e partilhar informação até se chegar a alguma conclusão contundente. O meu amigo JS tenho muito trabalho nem sempre com tempo para aqui vir, mas mais cedo ou mais tarde acredito dirá alguma coisa que nos ajude, porque ajuda sempre.
ResponderExcluirRetribuo cumprimentos caro Amaral
Muito boa noite Maria Isabel,
ResponderExcluirAgradeço a amabilidade de me endereçar as dúvidas existentes, no entanto não sou especialista na matéria, apenas aprendi algumas dicas de alguns mestres, mas nunca aprofundei este tipo de conhecimentos.
No entanto, pelo que estou habituado a ver, as peças das fotos 10, 12 e 14, não parecem ser de Aradas-Aveiro, ou seja, são pouco usuais a sua atribuição a esta zona, mas como existiam muitas pequenas unidades ou oficinas cerâmicas e como se copiavam nas formas e nas decorações (também pela mobilidade dos pintores), poderá ser da nossa zona...
Da Fábrica Corticeira, não conheço qualquer característica dos produtos produzidos, mas no entanto, nunca ouvi falar no esponjado com rolha e acho estranho pois os efeitos de marcação de tinta com rolha ficaria borratada.
O que é/era normal fazer, era enrolar a esponja do mar de modo a esponjar em formato de bolinhas e no bordo da peça bater a esponja, previamente cortada em forma de triângulo para dar o feitio observável no bordo na maioria delas. No cento era aleatório, dependendo do pintor/decorador.
Temos de nos situar à época, e à necessidade de produzir louça barata e esta decoração podia ser feita por qualquer um, até mesmo crianças.
Se entretanto obtiver mais alguma informação, terei muito prazer em a partilhar.
Agradeço a atenção do Jorge e da Isabel e desejo um óptimo fim de semana.
Com os meus cumprimentos, jorge saraiva
Caríssimo JS bem haja pela cortesia da visita e pela partilha dos seus saberes que já nos habituou nesta temática, sempre de grande valia. Já acrescentei no post para o enriquecer.Mais uma vez o meu muito obrigado e resto de bom domingo. Bj Maria Isabel
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