"Detentora de uma assinalável e antiga tradição, a cerâmica caldense é conhecida documentalmente desde final do século XV, época da fundação da vila e da construção do seu Hospital (o primeiro no mundo a tirar partido da acção terapêutica das águas) e os conhecimentos que temos dessa cerâmica, foram veiculados, por Frei Jorge de S. Paulo, cónego lóio, provedor do Hospital Termal e autor da história da Fundação do Real Hospital até 1653, redigida cerca de 1656, no qual assinala a existência de boa matéria-prima em Caldas da Rainha para a laboração de louça, “barro tão perfeito que serve de matéria para se obrar grande cantidade de louça vidrada, todos os anos”.
O autor deixa ainda perceber as principais tipologias de louça produzidas em Caldas, desde as mais simples, para abastecimento do Hospital e da Vila, às mais requintadas, “(...) e da verde se fazem peças de estremados feitios, recebem tal lustre e polimento como espelhos e brilhão como esmaraldas sem que lhes levem vantages seus resplendores...”.
"Louça apreciada pela família real, por nobres e cortesãos que a adquiriam e levavam consigo para a corte “(...) toda a pessoa de porte faz seus empregos nestes aprazíveis brincos quando se partem levando-se para a corte e a Casa Real, onde se apresentou à Rainha D. Luísa, no ano de 1653, uma caçoula de tão peregrino artificio que estimou como se fora obrada nos metais da maior estimação (...)”.
Exemplares da cerâmica antiga das Caldas revelam-nos o seu carácter especial. A mais humilde peça de olaria ostenta sempre algum elemento decorativo que embeleza a sua utilidade. As bilhas são rodeadas de círculos simples ou decoração que pode ser com uma grega gravada ou relevada no barro, ou um fino sulco, os potes com caneluras em redor do bojo e boca e especialmente os vidrados, amarelo ferro, verde chumbo, verificando-se a existência de peças já ornamentados com motivos relevados de carácter erudito, como rosetas e mascarões, de influência renascentista e oriental e que se destinavam a uma clientela mais exigente."
"Manuel Cipriano Gomes, conhecido como "o Mafra" por ter nascido naquela localidade, veio para as Caldas, trabalhou com a mítica oleira Maria dos Cacos e acabou por ser o seu sucessor tendo ficado com a sua oficina a partir de 1850.Dez anos depois, Mafra fundou a sua própria fábrica e começa a produzir peças sob influência do neopalissismo europeu (produzindo peças inspiradas na natureza como tinha feito o ceramista francês da Renascença, Bernard Palissy). Esta tendência influencia a cerâmica na Europa, na segunda metade do século XIX e Mafra vai juntar a esta tendência características específicas, reproduzindo a natureza desta região nas suas obras.
Em 1870, o ceramista frequenta a corte de D. Fernando II e “recebe autorização para usar a coroa real nas suas marcas fabris”, disse a investigadora. Passa a assinar M.Mafra/Caldas/Portugal e com o desenho da coroa real.
Como teve contacto com produções europeias da colecção real e de outros coleccionadores, começa também a introduzir técnicas que constata nessas obras mais modernas: a policromia e ainda a técnica do musgado. A partir de então Mafra participa em exposições internacionais. A primeira foi em Viena de Áustria, onde recebe uma medalha de mérito. Na exposição Internacional de Paris em 1878 e na do Rio de Janeiro que se seguiu, recebeu medalhas de prata.
O Inquérito Industrial de 1881 refere-se ao ceramista como “O Palissy das Caldas”.
Mafra obteve sucesso internacional, mas segundo a oradora, “trabalhou de forma intensa e não teve tempo para fazer a sua própria divulgação, consumindo a sua vida numa obra que lhe sobrevive, imortalizando-o”.
Uma das marcas de mafra
Comprei duas floreiras na mesma banca onde haviam outros objetos
oriundos da mesma casa "uma
jarra de altar, dois bules e outro minúsculo, todas as peças na mesma
cor" não marcadas, como sendo obra do Manuel Mafra.
Podem ser. Dúvidas se a Maria dos Cacos, já produzia cerâmica relevada?
Uma coisa é certa são das Caldas da Rainha, e muito antigas. Possivelmente do inicio quando o Mafra se chegou a Caldas e começou a trabalhar com a Maria dos Cacos(?). |
Lamentável o colega que as adquiriu por terem estado anos e anos perdidas nalgum sótão arrecadadas, o seu estado, ainda se nota nos relevos mais baixos, de patine esbranquiçada pelo pó e humidade no tempo.
Decidiu em as limpar com produto que lhe conferiu brilho, mas se nota nas flores, como se fosse verniz, acredito as pétalas partidas o foram agora na limpeza...
Isto para dizer que não houve cuidado exigido, apenas pensaram em ganhar dinheiro.
Floreiras aparentemente grosseiras, de bordo em círculos relevados, ligeiramente picotados, apresentam no bojo um par de anjinhos relevados , um de cada lado, de braço no ar, segurando a flor em cor laranja, as floreiras terminam em bico saliente como se fosse um pináculo, pintadas em monocromia castanha, típica no vidrado das Caldas incrementada pelo Mafra.Não sei como a obtinha, porque não sendo compacta, ao jus do esponjado com muito brilho.
Sem qualquer marca |
Peças utilitárias de cariz ingénuo, usadas em decoração de oratórios em casa, ou nas tabernas.
A Maria dos Cacos não assinava as peças.
Apesar de peças sóbrias exalam beleza rara.
Foi o meu marido que primeiro olhou as peças inclinando-se para me oferecer a jarra de altar, oferta que declinei por a achar maior do que o habitual, e tendo já outros exemplares, decidi-me pelas floreiras para colocar junto do meu oratório.
Mafra e Bordalo
"Só que Manuel Mafra, apesar de reconhecido internacionalmente, representado em exposições internacionais em Paris (duas vezes), Viena, Filadélfia, Londres e Rio de Janeiro, sendo premiado e exportando largamente as suas peças, era um autor protegido por D. Fernando II pelo que “sofreu um apagamento injustificado enquanto artista, face à figura e obra de Rafael Bordalo Pinheiro”, contou a oradora.Este facto deu-se porque Mafra e Bordalo representavam mundos opostos e a novidade e a forma de ser de Bordalo acabaram por deixar na sombra as criações daquele antecessor. No entanto, Cristina Horta classifica a obra cerâmica de Mafra como “extraordinária”, acrescentando que esta “viria a ser a principal inspiração da produção que Rafael Bordalo Pinheiro viria a realizar na Fábrica de Faianças”.
"A investigadora deu a conhecer como se relacionaram e confrontaram estas duas grandes figuras da cerâmica caldense e nacional: Manuel Mafra foi o pioneiro e introdutor da cerâmica artística em Caldas, enquanto que Rafael Bordalo Pinheiro, “detentor de um percurso artístico conhecido e atraído pela cerâmica artística modelada nas Caldas, veio a adoptar o estilo na maior parte da obra cerâmica que desenvolveu na sua fábrica”.No querer conferir a Manuel Mafra “a sua tão merecida dimensão, bem como o reconhecimento tardio de um autor, cuja obra tem sido, até aos dias de hoje, mais requisitada no estrangeiro do que no seu país”.
"A investigadora deu a conhecer como se relacionaram e confrontaram estas duas grandes figuras da cerâmica caldense e nacional: Manuel Mafra foi o pioneiro e introdutor da cerâmica artística em Caldas, enquanto que Rafael Bordalo Pinheiro, “detentor de um percurso artístico conhecido e atraído pela cerâmica artística modelada nas Caldas, veio a adoptar o estilo na maior parte da obra cerâmica que desenvolveu na sua fábrica”.No querer conferir a Manuel Mafra “a sua tão merecida dimensão, bem como o reconhecimento tardio de um autor, cuja obra tem sido, até aos dias de hoje, mais requisitada no estrangeiro do que no seu país”.
Fontes:
http://www.gazetacaldas.com/43665/manuel-mafra-foi-o-ceramista-precursor-abafado-pelo-mediatismo-de-bordalo-pinheiro/
http://www.dezenovevinte.net/800/tomo3/index_arquivos/Oitocentos%20Tomo%203%20-%2011.pdf
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