domingo, 26 de abril de 2015

Cachepot do Senhor do Arieiro de Tavarede na Figueira da Foz

"Pelos nossos apontamentos, sabemos que, em 1892, já existia uma cerâmica, no Senhor do Arieiro, pertencente a Joaquim Russo, e que, em Novembro daquele ano, ali fora instalada uma máquina para fazer tijolo furado, que havia sido feita nas Oficinas Mota de Quadros, da Figueira da Foz.
No início de 1921, esta empresa sofreu um grande impulso nas suas diferentes secções e aumentou o capital social para 150 contos. “... 
Além da fábrica de telha, tijolo e telhões, ao Senhor da Areeira, Tavarede, de cujos fornos sai diariamente larga produção-, faz a Cerâmica importantíssimas transacções com a venda de óleos, gasolina, material eléctrico, etc., tendo a representação de algumas das mais consideradas casas de Lisboa, Porto e estrangeiro.
Em pleno funcionamento, no mês de Setembro de 1922, a imprensa local foi convidada para uma visita às suas instalações. A reportagem foi a seguinte: “A convite do sr. dr. Ernesto Gomes Tomé, activo gerente da Cerâmica e Exportadora Lda, desta cidade, visitámos, segunda-feira passada, todas as instalações da fábrica do Senhor da Arieira.
  • Fabricava pela primeira vez louça branca, razão porque o activo gerente convidou os representantes dos 3 bi-semanários locais. A secção de louças, primeira instalação que visitámos, estava engalanada com verduras, flores e bandeiras. Pelo chão em pequenos montes, estendia-se a louça da primeira fornada, fabricada com perfeição, que se nota, fazendo-a vibrar, tocando-a.  
  • Além de pratos, malgas, canecas, bacias e jarros de pintura vulgar, notou-se a tentativa que alguns operários fizeram em alguns pratos, pintando figuras nuns e frases ingénuas noutros, com sejam, Amor, Vivam os Noivos, etc."
Cerâmica Exportadora, Lda ao Senhor do Arieiro Tavarede/Figueira da Foz


"Belo trecho de Mestre José Ribeiro, “O Pardieiro”, incluído na peça “Cântico da Aldeia”. Foi seu intérprete o também saudoso João de Oliveira Júnior."

"Junto a ti, ó velha Quinta saudosa,
Aqui me tens - o Pardieiro,

Teu vizinho e na desgraça dolorosa

Companheiro.
Também saudades são meu alimento.
O que eu fui... e o que hoje sou!
O recordar, para mim, é tormento...

No tempo de meu avô,

Dos Ruços, do Serol, vindos de Brenha,

Meus fornos queimaram muita lenha
A cozer barro vermelho,
Telha e tijolo, cerâmica grosseira
Que se espalhava por todo o concelho
Da presunçosa Figueira.

Vieram depois outros oleiros

E com os Ribeiros

Surgiu a faiança, barata e graciosa:
Travessas e pratos bem pintados,
Os potes vidrados,
Louça para a cozinha e para a mesa,
De pintura ingénua e maliciosa,
Com arte e com beleza.

Depois... nos fornos o fogo se apagou,

E na mão hábil do oleiro

- Dedos cariciosos, o pé ligeiro -
A roda enfim parou.
Do barro dúctil não mais saíram peças
De variado jeito:
Os pratos, as canecas, as travessas,
As cântaras airosas,
Com pinturas ingénuas, caprichosas,
De pitoresco efeito,
Ricas de intenção e vária fantasia...
Morreu a olaria!

Depois... Da cerâmica a outras mãos passei.

Que alvoroço! Que nova e grande esperança!

Vinha a indústria, o progresso, a abastança,
Nem eu sei!
E uma outra fábrica se ergueu!
E levantou-se a grande chaminé
Que, como em grito de fé,
Parecia assim anunciar ao céu:
- Eu sou a Fábrica de Conservas, de sardinha
E de outros peixes também!
Aqui não faltará trabalho a ninguém!!

Mas... má sina atrás de nós caminha...

Parece que medonho vendaval,

Terramoto brutal,
Em campo de ruínas a Fábrica mudou!
Triste pardieiro - eis o que ora sou!"

"Na Junta de Freguesia de Tavarede estão expostas algumas peças com a indicação de terem sido fabricadas na fábrica do Senhor da Arieira"
Tavarede, desde 1981 que o paço é pertença camarária. Estranho sentir que as urbanizações se apoderaram do espaço na envolvente, quase o anulando na arquitetura quadrada e da torre manuelina, pior os azulejos, o antigo dono, dizem os retirou e vendeu para o Brasil e até lá foi levar alguns...Ouvi  da boca de uma vizinha, algures...
Recordo desde sempre o espaço emblemático quando ia a banhos à Figueira.
Sinto uma amargura  não o ver restaurado.
O mesmo da produção de faiança. Mas pior, o Museu da Figueira, não ter exposta nem uma única peça no seu concelho fabricada, e as tendo nas reservas.Não se entende o pensar de gente que aufere bons ordenados e não faz um trabalho meritório engrandecendo as terras em brilho, no prazer de mostrar as suas riquezas.Pois fiquei defraudada quando o visitei, apesar de outro espólio de grande valor.


Quis o destino que desse de caras com um cachepot assinado ARIEIRO  S e duas letras  F P que devem ser do nome do pintor.
Caricatamente o vendedor dizia-me" isto é da fábrica Arieiro ali onde é a CGD..." respondi, olhe que não, lá foi a fábrica Lusitânia....Silêncios!
Depois acrescentou, "isto esteve numa garagem 7 anos, já vendi outra peça mais pequena, também assinada..."
Devo confessar que na primeira impressão achei que podia ser Areeiro em Lisboa, porque na zona oriental, desde a Almirante Reis até ao Bairro das Colónias, existe uma dimensão brutal de altos fornos, alguns escondidos pelos prédios, a semana passada descobri outro na Rua Newton, só possível porque tive o privilégio de visitar um 5º andar para apreciar as vistas sobre o Tejo, além do  que existe e conhecido como forno do Tijolo, das chaminés do Desterro onde estive há meses, existe outra junto da  casa "Sopa dos Pobres" e,...
Pintado a monocromia num tom esbatido do manganês. Junto ao pé e no rebordo apresenta um largo filete com cartelas e dentro delas riscas em viez, sendo a primeira larga pintada a cheio.No início do bojo irradiam grinaldas que na ligação tem pendente, ornadas a  riscos em cima e em baixo. Ao meio do bojo uma barra de flores ligadas por caracol grande que se enlaça noutro mais pequeno num trio de folhas.O esmalte apresenta-se acinzentado.
Se não estivesse marcado passava com grande facilidade por outra fábrica mais sonante com Constância e outras.

 
A peça revela muita qualidade de fabrico e de pintura que é manual.
 Por dentro o esmalte  acinzentado, craquelê.
Analisando o que existe sobre esta fábrica, será produção século XX, supostamente anos 30/40.
A fábrica Carvalhinho em Gaia, fabricou cachepots semelhantes a este formato.

FONTES
http://tavaredehistorias.blogspot.pt/2011/09/os-quatro-caminhos-do-senhor-do-arieiro_09.html
Fotos google

sábado, 25 de abril de 2015

Prato de faiança inspirado no motivo " roselle" a dois tons, Coimbra ou Vilar de Mouros(?)

Apresento mais um prato motivo inspirado no "Roselle" (na foto reproduzido num prato de Alcântara)
pelo esguio  casario ladeado por árvores.
O meu prato apresenta ao centro  um casario, aves, caules das árvores, arbustos e rodapé, em forma de barco, pintado no tom rosa sendo as ramagens das árvores a ladear, no tom verde, limitado por filete ao limite do covo de cor rosa.
A aba com arabescos vários em tom verde limitados ao limite do rebordo por filete rosa.
 Esmalte em tom cor de grão.
Atribuição a finais do século XIX (?) início de XX.
Local de produção?Busílis. Por ainda nada ou pouco se saber da produção de Vilar de Mouros, aguarda-se a todo o momento a mostra dos fragmentos, que uma família guardou durante anos, para vir à luz uma veracidade que até hoje é ainda obscura, apenas se sabendo que copiaram o que se produzia em Coimbra e nas cores; rosa, verde e castanhos.
Na net encontrei peças em termos de comparação com atribuição a Coimbra (?). Mas esta terrina é por certo fabrico de Alcobaça!
O vendedor atribui  erradamente fabrico "Mira Gaia"...

Terrina do meu amigo Arlindo Bento será  Alcobaça ou Vilar de Mouros(?) pelo esmalte cor de grão e as duas tonalidades que na foto se percebe mal, a casa tem uma cor amarelada no contraste do resto em castanho.
Na net descobri este açucareiro atribuído a Coimbra ou Vilar de Mouros (?). 
O tom  verde ervilha foi inventado por Vandelli em Coimbra .Nesta peça a  dois tons tal como na terrina acima.
 Tenho um igual com motivos florais com a mesma asa em forma de "M".
Prato  de produção norte, Vilar de Mouros(?), com muita certeza, pelo esmalte e os filamentos finos de ligação dos ramos das árvores e das flores e da bordadura floral da aba.

Prato da minha coleção, o esmalte tipo porcelana e o manganês belíssimo na contra luz é brutal o brilho pode aventar norte(?).
Vejam-se as semelhanças das gavinhas de ligação na folhagem do meu prato com  a árvore atrás do casario.
Travessa da minha coleção com muita certeza produção de Gaia, Pereira Valente  ou Devezas(?), muita gente desconhece que se pintou em cor de rosa no norte, só reconhecem em geral o tom azul.
O mesmo esta malga que me foi oferecida pelo Sr Raul Abrantes
Coleção Dr. Luís Pereira Sampaio de  José Reis de Alcobaça
Travessa atribuída a Vilar de Mouros(?)
Sendo que este motivo foi com algumas alterações pintado por vários centros oleiros desde o centro, nomeadamente em Coimbra, Alcobaça, Aveiro e norte em Gaia, acredito noutros centros oleiros, que deles nada se fala, sediadas na cercania compreendida entre Braga e Barcelos.
 Tardoz
Em comparação na mesma parede com outro muito semelhante pintado a monocromia só em verde e o rodapé em esponjado a bicos, se revela diferente.
Acredito que os meus dois pratos saíram da mesma olaria, supostamente pintados por pintores diferentes. Os detalhes da pintura, nomeadamente das ramagens a cheio, encorpadas em ondas.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Massarelos em prato publicitário a loja da Rua da Assumpção 20 Porto

Um prato em azul e branco da Fábrica de Massarelos que encontrei numa banca de um colega na feira de Páscoa, de Figueiró dos Vinhos. Homem cortez, deixou-me fotografar e ainda me disse que pertenceu a um comandante, a quem comprou um recheio de imensos livros e loiças diversas que vendeu a colegas, desde VA azul e,...Por o seu negócio ser livros, acabou por se aperceber que as vendeu abaixo do preço, pela antiguidade e pela louca procura  por parte de outros colegas, restando este prato gateado e esbeiçado no rebordo-, na desforra pedia 40€ ... 
O motivo central apresenta a estátua equestre  de D. Pedro IV e a aba ricamente decorada com medalhões dedicados a ilustres portugueses: Vasco da Gama; Infante D.Henrique; Pedro Alvares Cabral com reservas de pinhas com crista floral, em alternância de monumentos da cidade do Porto: Ponte D. Luís; Palácio da Bolsa, Torre dos Clérigos e a Estação de S. Bento(?).

Os medalhões divididos por reservas de contas
 
Tardoz com símbolo circular alusivo a uma casa na Rua da Assumpção, 20 Porto, o "gato" eliminou o nome da loja...O que evidencia ser um prato publicitário da loja(?).
 A marca impressa na pasta nitidamente PORTO e .....relos.
Esmalte craquelê.
No final da feira vinha a correr o colega e diz-me, olhe apareceu um conhecedor de faiança, diz que o prato é Massarelos. Pois é, mas eu não me lembrei!
O referido conhecedor que logo adivinhei de quem se tratava, antes no meu estaminé de chão, pergunta-me se a molheira  branca com filetes laranja era VA ou Sarreguemines?

Se não estivesse marcado não aventaria produção de Massarelos, a primeira fábrica industrial de faiança em Portugal, com peças de alto requinte e pintura, esta peça uma delas, apesar do  estado merecia honras de Museu!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Prato de faiança em monocromia azul com gomil e arranjo floral

Postei estas fotos no face antes da Páscoa com o comentário" Já me sinto bem melhor e com energia, foram uns dias com muita acidez no estômago, só a dieta, chá de erva cidreira e o saco quente me salvaram, apesar do pecadito de véspera em que se celebrou o dia do chocolate e claro, acabei o bolo que tinha feito no domingo...Melhorzita apeteceu-me vadiar, desfrutar do sol  e, para arejar as vistas fui espreitar uma loja onde em tempos vi este prato completamente assassinado-, foi partido e colado, mas para não se notar, foi selvaticamente pintado-, uma lástima total, ainda assim caro na primeira vez que o vi. Perguntei de novo o preço, sendo francamente bastante favorável que não hesitei em o trazer comigo. "
Imaginem o que senti com a camada de tinta em redor do desenho ao centro, até julguei que a pintura teria sido para tapar a falta de esmalte...(que estivesse gasto, pelo uso, prato galinheiro, debalde nada disso...)
Foi limpo com bastante acetona.Feliz e vaidosa não resisto na  sua partilha. Meti mãos à obra, só depois me lembrei de fotografar...
Nota-se bem a pintura selvática do ignóbil e vil que o adulterou, devia no mínimo ter partido um dedo-, tamanha raiva vomitada aqui em  farta gárgula!
 
Depois de limpo se revelou ser bem outra coisa!
Um belo prato em pintura monocromática azul clara.

  O tardoz brilhante com transparência do azul cobalto
 
O centro do prato apresenta-se com um gomil a fazer de jarra com flores limitado no covo por fino filete.
O antes e o depois
A barra apresenta-se limitada por filetes com ramagens de flores enlaçadas em cordão de filetes em onda no feitio de "S" intermediados com bolas a cheio

 Feliz depois de o limpar e redescobrir tamanha beleza.
 Contrastes com semelhanças em outras peças
Prato que encontrei no OLX com muita semelhança na decoração da barra , só a tonalidade de azul é bem diferente.
Em tempos fiz um post com o mesmo motivo -, do gomil
http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.pt
A curiosidade neste pratinho além do gomil é o frete do pé em redondo o que evidencia fabrico em fábrica industrial, mais tardio que o prato acima produzido em olaria. Um dia destes faço um post com peças com este frete
Uma foto retirada da net com dois gomis, atribuído a Coimbra 
Um mês depois comprei outro com o mesmo motivo ao centro e rebordo recortado
Pois já encontrei peças com atribuição a Coimbra no mesmo motivo com rebordo liso e recortado.
Pois o meu bonito e gracioso prato me parece ser do primeiro quartel do século XIX (?) quando apareceram as estampas vindas de Inglaterra, anos 20?.
Quanto à sua proveniência em termos de fabrico, atrevo-me a dizer sem cometer a loucura de aventar o norte, com barro vindo de Lisboa que aportava em fartura em Gaia ou Coimbra. 
E porquê? Porque foi usado barro branco ligeiro amarelado) que se nota bem na frente onde partiu.
Como nota introdutória "as argilas têm significados diferentes para diferentes grupos de pessoas. Para o agricultor as argilas são o ambiente mecânico e químico onde a maioria das plantas cresce. Para o ceramista são a matéria prima das suas obras, há mais de 4 mil anos. Para o editor, conferem a suavidade à superfície do papel em impressões de alta qualidade. Como fim médico, podem ser um alívio para a diarreia, e para o sondador, são um componente das lamas de perfuração. Para a maioria das pessoas representam apenas a incómoda lama nos sapatos. Já na área da geologia, o termo argila pode ter vários sentidos."
Por hora fico-me a sonhar que é de Coimbra(?).

 Tive de retirar outro prato para novo poiso...
Coloquei o prato na parede da sala, na sua companhia mais cinco todos atribuídos a norte (?).
Seja pelo esmalte lácteo e o azul cobalto desmaiado com transparência no tardoz  denota ser fabrico de uma boa fabrica de Gaia, que pode ser desde Miragaia a SAVP, ou outra congénere que dela infelizmente não se fala assiduamente nesta temática -, cuja tamanha culpa é de nunca ter havido gente que lhe desse a devida  importância como se apraz aos nossos olhos aos dias d'hoje infelizmente constatar.

Claro que valeu a teimosia de voltar e sem receio o trazer comigo!

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...