terça-feira, 13 de novembro de 2012

Dúvidas na atribuição da faiança a Coimbra, Alcobaça e norte


Hoje apresento exemplares que sobre eles recaem dúvidas ao centro de fabrico: Coimbra, Alcobaça ou  norte em especial Vilar de Mouros porque todas pintaram temas de casario. 
Coimbra 
Este prato apresenta influências na pintura de Coimbra  -  barro avermelhado, no séc XIX haviam a produzir loiça na cidade 14 fábricas 7 em barro branco, e o mesmo número de barro vermelho. Também pela decoração que apresenta ao meio um círculo duplo, em azul claro, e um filete no limite do covo, na aba flores vermelhas com cartelas com traços verdes ao alto e no rebordo um filete fino a ocre.
Taças de fabrico Coimbra  
O tardoz reflete no vidrado a cor amarelada, caraterística duma determinada época.
Produção de José Reis
Prato de grande dimensão pintado a estampa a manganês com a aba em tom amora nas contas e filete que delimita o bordo, esmalte amarelado cor de grão, em que a cor reporta para Alcobaça.

Bacias em faiança "ratinha" produção de Coimbra
Coimbra


OAL - reprodução de loiça ratinha depois dos anos 30
Cortesia de Ivete Ferreira
Origem da faiança de Alcobaça 
Em tempos divaguei sobre a produção de faiança por terras de Alcobaça. Volto a insistir no tema por alteração do post inicial ao qual retirei matéria para numa posterior fase o voltar a abordar . 
O José Reis transportava carroça com barro branco de Alcobaça para Coimbra, no tempo que ficava na cidade aprendeu como fazer olaria a pintar e na volta a casa era comerciante de faiança que levava embrulhada em palha de Coimbra e possivelmente vendia peas terras onde passava. Na altura do Marquês de Pombal decide fixar-se em Alcobaça onde abundava o barro branco de 1ª qualidade - matéria-prima a pensar no seu negócio de oleiro em Alcobaça. 
Segundo informação do blog :http://www.valadofrades.com  "teria arrendado umas instalações a José Rino, numa cavalariça de uma casa senhorial junto à ponte D. Elias, e aí surgiu a primeira fábrica de cerâmica de que se tem conhecimento em Alcobaça."
 "A produção de José Reis - ia desde a loiça pintada até à estampilhada, empregava como base o barro branco da região, que provinha de uma quinta pertencente à família Pereira dos Capuchos, foi, durante quase um século (até à década de sessenta), a matéria-prima da cerâmica produzida em Alcobaça. Existem pouquíssimas peças marcadas conhecidas, e as que não o são podem confundir-se com as de Coimbra. Os motivos decorativos mais conhecidos são paisagens com casario e árvores ou então flores, a preto, azul ou cor-de-rosa." É notório a grande testemunho de influência e tendência Coimbrã incutida nas suas peças em Alcobaça. Razão pela qual só pelos detalhes se consegue com alguma fidelidade atestar a origem de muitas peças - tal a semelhança. 
Fabricou desde loiça ordinária à fina, pintada à mão e estampada, para utilização doméstica. Os motivos decorativos eram de inspiração rústica: flores, frutos, animais domésticos, cenas da vida rural, lendas populares. Além de peças de uso doméstico: travessas, pratos, terrinas, xícaras, tigelas, saladeiras, também se fizeram outras de utilização mista ou decorativa: garrafas de forma humana ou animal e pratos de parede. 
Analisando algumas peças concluí haver uma predominante pobreza da estampagem da cercadura do rebordo (talvez pela exuberância da pintura central) (?) Quanto à grossura da massa e ao peso das peças - difícil será atestar em tantas que já vi - porque em Alcobaça o José Reis fabricou peças finas e grosseiras. 
José Reis viveu até 17 de abril de 1898. A filha dele após o falecimento do pai arrendou a fábrica em 1900 com notícia no jornal local a 7 de outubro a Manuel Ferreira da Bernarda. A primeira fornada saiu a 7 de Novembro desse ano, conforme foi registado num prato pintado por J. Pequeno (nome pelo qual era conhecido o dirigente da fábrica, José dos Santos). No verso do prato é referido o facto de ser a primeira peça pintada por conta de Manuel da Bernarda. Apresenta uma pintura de folhagem larga em tons de azul, a zebre, castanho, tendo no centro um retângulo com uma inscrição semelhante à loiça coimbrã.
No princípio do século trabalhavam na fábrica oito operários enquanto na direção tomava parte Silvino Ferreira da Bernarda, filho mais velho do proprietário, uma vez que seu pai se dedicava à construção civil, não tendo tempo para se dedicar aquela.

As marcas "Alcobaça" e "15/8/75" 
Inscrições que se encontraram num prato referido por José Queirós na sua Cerâmica Portuguesa - num outro feito para uma exposição em 1925, também o ano de 1875 vem referido como sendo a data de fundação.

Santo António produção José Reis Alcobaça

Cortesia da banca do amigo Engº Adriano Maia

Outras peças de pratos falantes 
De Coimbra e Senhor do Areeiro de Tavarede Figueira da Foz 
A minha amiga Isa Saraiva comprou no norte um prato semelhante assinado Viúva A. Oliveira de Coimbra
O tardoz com dois fretes é típico da produção de Aveiro e não de Coimbra. O que levanta a questão de algum pintor ter trabalhado na fabrica de Coimbra  se ter deslocalizado para Aveiro, continuando a por a marca de Coimbra, o que também aconteceu com outro pintor que se deslocou para a região de Leiria e o fazia, dito por um neto.
Apresento esta terrina em faiança com motivo decorativo - paisagem e casario pintada a verde ervilha.
O que me intrigou nela foi a impressão do número - 2 - no fundo da terrina. Evidencia o tamanho da terrina
O barro é amarelado a evidencia produção a norte de Coimbra.
Fabrico de Coimbra
Outras peças retiradas da net
Coimbra

Coimbra
                       
Coimbra

Gaia 

                              

Mostra em policromia e o outro a dois tons;verde e rosa de Coimbra(?) 

Pratos
 1º Coimbra 
O 2º 3 e 4  Norte 


Exposição do Museu de Alcobaça Dr. Jorge Sampaio
Bacia e jarro. Colecção Dr Luís Pereira de Sampaio 



  

Pratos, um deles com marca sinete incisa na pasta. Colecção Luís Pereira de Sampaio
   Prato pintado à estampa. Colecção Coronel Bivar de Sousa


                          Prato da minha coleção

Marcas da faiança de Alcobaça retiradas de - http://www.valadofrades.com

Segundo informação do site mencionado passo a transcrever -

Esponjados Coimbra ou José Reis Alcobaça(?)
pratinho esponjado séptia





A fábrica de Manuel da Bernarda era conhecida por Fábrica de Alcobaça como, aliás, aparece nas suas marcas. Desta fábrica, hoje...resta a recordação e, peças em colecções particulares! 




0 meu prato decorativo. Não sou fã desta loiça, pela exuberância do azul- nalguns casos chega ao berrante...desculpem - contudo gosto de algumas peças, nomeadamente deste prato pela elegância contorneada da aba, do desenho miúdo e da palete de cores. 
Em jeito de complemento a oiro: Ivete Ferreira - para quem não sabe foi a investigadora da "coleção ratinha" do Museu Cargaleiro em Castelo Branco. Muito recentemente o Museu editou um catálogo sobre este tema com textos seus para Tese de Mestrado sobre a faiança ratinha, o último do género ocorreu há coisa de 20 anos, e que muito honra os amantes da faiança. Teve a gentileza de me enviar algumas fotografias com as marcas de José dos Reis e de Raúl da Bernarda, bem como de uma peça publicitária, em que é nítida a "marca ratinha" - que muito me honra a sua ajuda. A cerâmica faz parte da vertente industrial de Alcobaça, e por décadas foi sem dúvida quase a única e de certeza a maior empregadora.Problemas colocados na última década levou ao seu desbaratamento e hoje...não existem!
Na faiança de Alcobaça e da de Raúl da Bernarda, encontram-se nítidas influências de outras fábricas, do norte a Sul de país. Sem esquecer os pratos TI Mila vendidos nas feiras( a vendedora deu o nome aos pratos). A loiça azul que muita gente não aprecia, de certa forma descredibilizou ALCOBAÇA.Sendo que há belas peças.

PARA QUEM QUISER SABER MAIS - http://www.alcobaca.pt
CLARO QUE FICA MUITO AINDA POR DESCOBRIR E MOSTRAR - O MAIS FASCINANTE!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Avivar o dia de S. Martinho com a tradição das castanhas

O sol apareceu forte umas horas nesta tarde - dei-me conta que domingo é dia de S.Martinho.

 http://ahistorianacidade.files.wordpress.com/2009/11/21_ourico_castanha20judia_pinela.jpg?w=162&h=125
Um dos meus assadores de castanhas na casa rural


O meu castanheiro ainda é jovem está algures neste quintal, acredito que para o ano me presenteia com as primeiras castanhas...
 o quintal da casa, merecia ser pintada - pois merecia - falta a coragem!



Quintal e eira com as minhas pedras da Serra da Ameixieira

Gosto francamente dos ouriços - da sua perfeição e delicadeza no apêndice para nos ajudar a abrir-los - descubram quando os virem - há uma foto com o ouriço que se nota bem . Fiquei pasma como a natureza é tão perfeita. Tal como os putos hoje em dia não sabem na maioria de onde vem o fiambre e o chouriço eu também nunca tinha aberto um ouriço - só conhecia as castanhas. Estamos sempre a aprender. Longe vai o tempo que a serra de Nexebra era coberta por frondosos e seculares castanheiros até ao dia que uma praga os dizimou quase todos. O meu marido tem um terreno no costado de eucaliptos com o pé de um cujo diâmetro sem exagero terá mais de 10 metros.Podem acompanhar as castanhas com jeropiga ou abafado como se diz na minha terra feita com o mosto do vinho branco. Curiosamente mal chegados a Ansião pegámos numa cesta, levei o meu marido ao Pinhal do Dr Faria onde em miúda ia com a minha irmã apanhar medronhos. Vi um coelho a fugir por entre o mato -  trouxemos alguns, grandes e vermelhos, fizemos duas garrafas para dar cor e sabor à aguardente, ainda demos os restantes ao nosso compadre que a casa deles fomos jantar um arroz de cabidela de pato - divinal - eu levei uma tarde moura feita com ovos, gila e amêndoa.

Já saboreei água pé muito boa, até aguardente do meu lavrado ( oferta generosa da D. Lucília e do marido Xico a quem ofereci as uvas da Mó )- que poda a vinha não via há dois anos - este ano correu de feição sem moléstia, as parreiras cobriram-se de  cachos de uvas desenxovalhados , uma de casta de mesa com mais de cem anos subiu por uma oliveira, tinha pendurados cachos com mais de dois quilos. No dia seguinte à vindima, voltei lá com um escadote para as poder cortar. A minha mãe ficou pasma. Impossível deixar estragar tanta riqueza...Castanhas também já as provei -  na casa rural no almoço no último sábado - chovia, acendi o lume, as assei no brasido da  petinga saborosa e dos pimentos, nas trempes pus a panela enfarruscada preta para cozer as batatas, e na minúscula a cafeteira para fazer a cevada - gosto de cozinhar ao lume como antigamente nesta cozinha velha como lhe gosto de chamar - janela e porta aberta com a  arca outrora guardadora do milho agora guardadora da lenha, lindo o  cenário de chuva que caia de mansinho lá fora - eu e o meu marido refastelados no nosso rico almoço a que não faltou merendeira dos "Santos" com passas, nozes, e erva doce, deliciei-me ao bebericar um pixel de aguardente de medronhos feita por nós o ano passado que temos no bar da sala, ali aberta. A loiça  foi lavada em alguidares de vidro verde como dantes debaixo do alpendre a ver cair a chuvinha doce...de tarde foi bem pior acabar o serviço. Ao meu marido dei instruções - pois na agricultura mando eu  -, para cortar silvas da ribanceira...deixou umas quantas... ainda ficou amofinado por o chamar à atenção!
Ontem fiz Ginjinha para oferecer pelo natal - para o efeito trouxe uma garrafa da Marinha Grande de largo bocal feita por encomenda para os Grandes Armazéns do Brás e Brás ( impresso no vidro do fundo ) - comprei nos supermercados Aldo 2 frascos de meio quilo de ginjas em calda, só aproveitei a polpa da fruta escorrida a que juntei aguardente, açúcar mascavado, paus de canela e cravinhos...ainda há um segredinho - aliás - há várias fórmulas de fazer esta bebida. Guardei a garrafa na despensa em local mais escuro -  dois em dos dias tenho de de a emborcar para o açúcar se misturar bem. Fiz a equivalência da receita dada gratuitamente por um bom amigo feirante - Luís do Cadaval. Faz inclusive um delicioso arroz doce - rapaz muito prendado de mãos.


Ginjinha

Bom dia de S. Martinho no adágio popular - vão à adega e provem o vinho! 

FELIZ S. MARTINHO!!! 

O meu marido acaba de chegar com um "GRAÕZITO NA ASA" houve magusto no local de trabalho - bem humorado e tão engraçado...a festa vai continuar... Oh se vai!

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Sacavem em produção de três fábricas diferentes

A minha amiga  Leonor Ceia há tempos ofereceu-me uma série de objetos  pertença uns da sua querida avó, outros da sua querida mãe - destaco duas travessas em dois tamanhos com a mesma bordadura em estampa de florzinhas  e dourados nas pegas - produção da Vista Alegre.

 Pormenor da pega floreada em relevo com dourados


Pratinho da  Sacavém da mesma época  1885 com o mesmo motivo de florzinhos - mais encantadoras, noutra versão à posterior nas travessas sem as nervuras na aba com as flores  ligeiramente diferentes.
Outra travessa mais pequena de aspeto amarelado pelo largo uso -,  por se tratar de pó de pedra e não porcelana verdadeira - o que evidencia fabrico anterior à descoberta do caulino que ocorreu em 1832.


Nota-se nesta foto um picotado e relevo de desenho que não foi pintado optando pela cercadura das florzinhas.
Curiosamente na 1ª feira de velharias de Alcochete fui reencontrada por uma habitual visitante deste blog - numa conversa casual diz-me - não me diga que o seu blog é o Lérias...farto abraço comovido.
Da parte da tarde - a  Cíntia  trazia num saco uma travessa inglesa  decorada a azul ao centro, de aba recortada, gateada,  com os mesmos dourados nas pegas - foi o Santiago que me alertou - um dos donos da fábrica de Sacavém - Gilbert(?)  foi também dono de outras fábricas de loiça ao tempo : Vista Alegre e da inglesa onde foi feita a travessa da Cíntia - sendo que as minhas julgo não haver dúvidas do seu fabrico ser da Vista Alegre - todas têm o mesmo formato e acabamento, só diferem na estampa.
Agora o inimaginável - a Cíntia ofereceu-me a sua travessa herança da sua querida avó - trazida pelo avô um homem viajante pelo mundo.
Padrão floral com relevo nas pegas fabrico 1830(?) - O carimbo encontra-se esborratado ( com pé, esfera  termina em triângulo) é perceptível um L  e...será de  Longton (?)
As duas maiores decoram uma das minhas salas de uma das casas.A outra mais pequena está na cozinha da casa rural.
 
Foto de cortesia
  • Duas travessas e molheira da fábrica Sacavém na banca do Vitor com ligeiras diferenças no design na aba apresenta-se com nervuras vincadas em gomos
  • No entanto igual na banca da Isabel Rute  em Algés encontrei outra travessa grande da fábrica de Sacavém 

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...