terça-feira, 21 de junho de 2011

Faiança de Miragaia (?) motivo cantão popular

  Travessa cantão popular de Miragaia século XIX (?)
Quando a comprei apresentava por dentro uma falha no vidrado a toda a volta, julgo estaria arrumada com outra mais pequena que ao encaixar, e mais utilizada durante anos a fio sempre no retirar e arrumar de novo a  danificou no vidrado ficando a de baixo, a minha  esbeiçada sem esmalte algum, a toda a volta,  ficando à mostra o barro branco levemente amarelado. Restaurei-a.
Tardoz da travessa oitavada de esmalte brilhante  branca de pasta homogénea.


A distorção do desenho original Cantão com as pontes que delas aqui fizeram barcos sendo que a de baixo leva dois remadores com remos debaixo dos braços. 



A forma das cúpulas das torres, o suposto salgueiro de cinco ramos ladeado por uma árvore tipo estilizada muito desenhada neste motivo a norte além das duas portas no casario  com as ombreiras curvas dão a sensação de "olhos com sobrancelhas".

Visível nos cantos nervuras ou vincos na massa, esmalte branco translúcido atribuído a  Miragaia.



Prato em motivo Cantão Popular numa variante que diria "Contemporânea" apresenta esmalte melado que irradia beleza do azul do motivo, pode ser fabrico final de Miragaia(?)






As diversas variantes portuguesas designadas por " Cantão Popular " não são mais do que variantes do Cantão da Companhia das Índias, mais tarde por influência da loiça inglesa, vários motivos, sendo o motivo Willow  pattern, o padrão do salgueiro muito pintado, surgido em Inglaterra no século XVIII como suposta transposição de um motivo chinês ilustrativo de uma lenda amorosa que alegadamente lhe estava associada, apresenta por sua vez inúmeras variantes, tal como o nosso Cantão Popular, que Sacavém produziu na Real Fábrica e depois mais tarde com o modelo Chorão


quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ainda voltando a falar de penicos...

Vou de férias até aos Algarves.
Deu-me uma vontade de vos deixar novos exemplares de faiança escatológica, termo que aprendi com a seguidora assídua Maria Andrade, a quem endereço um beijinho especial pela grande aprendizagem que com ela tenho adquirido. Bem haja, hoje e sempre.
Apeteceu-me deixar a pensar os demais...ser ou não ser Coimbra, Cavaco, Juncal ou...
Vim carregada da feira da ladra com mais dois penicos...

Estes dois muito parecidos com outros dois que já tenho.
Ligeiras diferenças.

Rebordo do pé largo, duas riscas azuis no bojo e no rebordo, barro vermelho.
Evidente a massa malegueira com buracos tal como em muitos ratinhos, que a pintura não adere.
Há partida seria fácil atribuir todos a fabrico de Coimbra (?).
Acontece que o circulo da base, o pé, nuns é bastante largo e noutros mais estreito e um ainda mediano.Também o rebordo do bocal nuns é muito airoso, elegante,enquanto noutros é quase talhado a direito sem rebordo saliente.
Também as riscas tem tonalidade diferente. Umas azul cobalto, outras azul claro e outro com duas riscas uma maior que a outra.

Uns são de argila branca e outros vermelha.
As asas são iguais com um pormenor no final uma dedada que o oleiro fazia para colar a mesma ao penico.
O penico de flores que não está postado aqui tem a asa diferente e esse não tenho dúvidas de ser de Coimbra.Veio de herança da casa dos avós do meu marido onde a loiça era praticamente toda de Coimbra e Aveiro. No entanto haviam mais 3 penicos bejes mais pequenos de massa malegueira.
Apenas um deles apresenta um esmalte lateo anilado que faz lembrar a pintura de Cavaco, postado no

leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.com/2011/05/penico-cavaco.

Fácil é entender que serão de épocas diferentes.
É sabido que as tinas de tinta seria feita talvez por aprendizes que nem sempre respeitariam a dose dos produtos, o que induz a tentação de de acreditar que sejam efetivamente todos de Coimbra, mesmo.No século XIX haviam 14 fábricas em laboração 7 de barro branco e igual número de barro vermelho.

Na feira não resisti a trazer este, apesar de lhe faltar um pedacinho no rebordo que vou restaurar.Igualzinho ao que tenho dúvidas se será Cavaco, um nadita menos anilado, igual ao da Maria Andrade.
Depois de outras pesquisas pode aventar-se que de fato é produção norte, possivelmente SAVP(?)

Comprado na feira da ladra .O sarro que tirei com o esfregão de arame...Ofereci-o á minha amiga Isabel Saraiva, para lhe dar sorte no casório.


Este que postei à dias de todos o mais anilado, no resto igual a este que lhe falta um pedacinho. A foto aqui ao meio de propósito para se comparar.


No mesmo dia encontrei outro  meio escondido entre carros...o vendedor apressou-se a dizer que era de Coimbra e com muita certeza.

Visualização do fundo, o friso da base é mais larga do que o penico a seguir e mais pequena dos de Coimbra postados à dias.

Vão servir de decoração num qualquer espaço...
A Maria Andrade tem um igual a estes de risca azul e um com flores que não engana ser Cavaco.
http://artelivrosevelharias.blogspot.com/2011/04/faiancas-e-porcelanas-escatologicas.
Atrevo-me a pedir que quando tiver um tempinho se fotografa o fundo dos seus e acrescenta no seu post para comparação.

Este penico é semelhante a outros que tenho. O esmalte é mais translúcido e asa é lisa
Sobretudo o Cavaco, estou curiosa.Muito obrigada, e desculpe o desafio.
O LuísY alvitrou no seu post que tinha visto uma imagem muito idêntica num catalogo de faiança do Juncal.Uma coisa é certa no Juncal só se trabalhava barros brancos que até iam de barco para o Porto e Lisboa embarcavam na Figueira da Foz, e estes exemplares mais torneados, elegantes são todos de barro branco.
Ajudem-me!
Prometo que não volto a faianças escatológicas.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Rouca a broca manual para fazer "Gatos" nas faianças

Por sorte na feira da Costa vi este exemplar, pediram-me 10€, ainda era cedo o vendedor arrumava o estaminé, queria estrear-se, ofereceu-ma por 5€, mas não quis. Dei meia volta, convenci os meus que adorava ter a peça, tive a sorte da minha filha também a ter apreciado, voltei, e trouxe-a orgulhosa de braço dado... não fosse a rouca furar o que não devia...
Perguntei a sua origem, um hábito que gosto. Disse-me veio tudo da Covilhã.(balança de madeira, camita de bebé em ferro e...
Ultimamente nas feiras já vi 3  roucas manuais de furar faiança deste tipo.
Esta rouca mais moderna, o fuso torneado à máquina, as que se encontram ainda à venda que comprei para o meu amigo Arnaldo Silva
Contudo todas mais modernas, torneadas a torno, mais recentes, feitas em marcenaria.
A 1ª era enorme na feira da Costa. Linda para estar num Museu.
Curiosamente as outras duas no mesmo vendedor, alentejano, mais pequenas uma logo a vendeu, ainda andará com a outra?
Como se põe a trabalhar. A peça para furar emana um movimento giratório fantástico que lhe é conferido pelo cordel que tem o segredo. Dá-se meia volta ao pau ao mesmo tempo que se impulsa a haste de madeira que está a atravessar, fletindo para baixo e cima. Obriga a rouca a girar, no caso a furar.
Desde miúda que me fascina este tipo de utensílio.Acredito deve ter um nome caraterístico. Ainda vou investigar falando com algumas pessoas mais velhas.
Usado por amoladores galegos na raia e grandes cidades. Na província era feita pelos amoladores que faziam os trabalhos à porta do freguês.
Nos meados dos anos 60 havia um homem maltrapilho,vivia de fazer trabalhos avulso, "gatos" nas faianças, arranjava varetas nos chapéus e amolava(afiava) facas e tesouras.
O meu marido também se lembra do seu avô paterno fazer os furinhos e pôr os gatos nas bacias, pratos de faiança. A sua broca manual era diferente desta. Lembra-se que a broca enrolada a uma cordel atado ás mãos, fazia um impulso em jeito de arco com água para ajudar a furar, claro que antes para não resvalar o furo por causa do vidrado fazia com um furador o inicio do buraco que depois era alargado e mais profundo com a broca.Usavam uma cola resistente ao quente e frio à base de clara de ovo.

Mote que me fez recordar uma lengalenga passada nesse tempo entre a minha avó materna e a minha mãe.

Perguntava a minha mãe à minha avó
" Oh mãe, o Pelaralho veio cá  pôr os gatos no alguidar?"
Responde a minha avó
" Veio, veio-,o filho da puta levou-me vinte cinco mé réis.
Retorquiu a minha mãe
" há pois, vinte cinco mé réis e o cu cheio de vinho..."
Apressa-se a responder a minha avó
"Não filha -,hoje o cu foi mal cheio, porque tinha cá pouco para lhe dar..."

Não resisti a rescreve-la no meu livro de memórias.
Esta rouca é muito interessante pela antiguidade.
O fuso em redondo foi talhado " à unha" isto é a canivete, tal como os africanos o fazem na sua arte de esculpir a madeira. Nota-se que a peça de madeira ao meio é mais nova do que o fuso e o pau que nele enfia.Trazia uma corda em plástico azul.O meu marido limpou a peça, colou o pau que estava partido, mudou a corda deu-lhe um novo ar mais adequado à época.
O tardoz de uma travessa em faiança de Coimbra. Podem ver-se os furinhos  feitos com uma peça do género apresentado ( broca)  e alguns "gatos" de ferro.

Sonho em pô-la no espaço que penso abrir...Não digo mais nada!
Por enquanto está na parede da minha sala. 
O habitual homem  que percorria as ruas para arranjar as varetas dos chapéus de chuva, afiar facas e tesouras e claro pôr gatos na loiça partida

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...