sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Caixa de guardar cartas de Domingos Vandelli de Coimbra (?)

Cortesia agradávelíssima de Verónica Andrade!
Entrou em contacto comigo porque leu um post que a fez sorrir  sobre uma pessoa o Sr. Lapónia, que também conhece, tendo aproveitado para me pedir se a ajudava na catalogação de uma peça maravilhosa. Caixa em Faiança, segundo ela "a paisagem é muito Europa central."
Para mim não evidencia fabrico estrangeiro, antes portuguesa. Tenha sido pintor de bom traço e mão quase firme no pincel em retratar uma pintura da época - casario onde não falta a emblemática torre da igreja, e as araucarias, tão pintadas a norte, olhando em pormenor os telhados, sobretudo o da esquerda, o campanário da Igreja, já estaria em desuso no séc. XIX em Portugal , em contraponto à cúpula de outra mais pequena que ainda existem, estranheza ou não, a pintura das serras pela desenvoltura, dite a possibilidade de produção estrangeira...
Contudo a cor do barro rosado/amarelado,  as cores; verde e manganês, o esmalte craquelê  sendo pesada é produção portuguesa.
Desculpem esta frontalidade!
Caixa de guardar o baralho de cartas pela simbologia que apresenta na tampa aos cantos, apresenta-se muito delicada pela pintura manual fina do desenho floral e reservas em xadrez , e nos cantos pinceladas gordas em cor verde desmaiado em contraste com o manganês, cor primária .
Para mim depois de ter começado por especular produção de Gaia, a peça a ser pesada aventa fabrico de Domingos Vandelli , químico italiano chamado pelo Marquês de Pombal para a Universidade de Coimbra onde na cidade tomou contacto com o Brioso, famoso produtor de faiança, vindo a construir a sua fábrica do Rocio de Coimbra em 1730, fechou portas depois de incendiada pelos invasores franceses, desertores do Buçaco em 1816 , quando se mudou para Gaia, onde comprou a fábrica do Carvalinho, cuja fábrica apresenta muitas peças também pintadas a traço fino, cujo pintor exímio no traço delgado e certo, contudo a textura e o esmalte não é Carvalhinho.
Naquele tempo os pintores também mudavam de uma para outra fábrica sempre à procura de melhor salário, o que dita por vezes maior dificuldade na atribuição de fabrico. 
Explica-se o desenho alusivo ao casario da Europa central, por ser o da sua Itália, no meu opinar.
E também a cor do verde desmaiado, uma sua criação, por ser químico, deve-se a ele a ampliação da palete de cores primárias, apenas contemplavam ; azul cobalto; verde cobre, ocre, e manganês. 
Tenho parte de uma trempe com apenas dois lados que era da sua fábrica, graças à oferta de um arqueólogo que a encontrou nas escavações feitas há coisa de 15 anos no adro do Mosteiro de Santa Clara onde foram encontrados imensos fragmentos e trempes , porque no chão da fábrica veio a ser construído o Jardim dos Pequenitos em Coimbra, e os escombros foram depositados junto da então ruína do mosteiro. Lamento não ter a peça nesta casa, nem a foto, a cor do barro amarelado como os pés da caixa.
Por último há anos deixei de comprar uma travessa quinada com este tipo de desenho pintado como se fosse por uma criança , era cara, mas o desenho era muito naif...para mais tarde quando visitei o Museu Soares dos Reis no Porto melhor enxergar a sua obra, e finalmente perceber que seria dele.

Peças de Domingos Vandelli em exposição no Museu Machado de Castro em Coimbra
Mostra outra perspectiva da caixa semi aberta produzida em época que as senhoras começaram a frequentar Clubes e salões onde jogavam às cartas, no propósito de as guardarem na caixa.
Se reparamos bem na pintura , sobretudo na grega há pequenos desvios do pincel, traços mais finos e largos na restante decoração do encanastrado e xadrez .


Bela caixa em faiança, peça de rara beleza e ainda marcada. Jamais reconheci esta marca, e julgo que ninguém (?).

Produção através de molde, em fábrica, com marca relevada na pasta dando a sensação de um coração cujas pontas ao centro se fecham em forma de elo aparentemente um "C" de Coimbra e "D" Domingos (?) terminado com folha ou lágrima, pormenor romântico.
Marca atribuída a Domingos Vandelli à partida, apesar de não ser ainda reconhecida neste Mundo da faiança portuguesa, pelo menos não a encontrei (?). O pormenor da folha, lágrima reporta-me para pintura portuguesa, pelo romantismo imputado pelo pintor na obra executada, em comparação a esta peça motivo cantão popular, o suposto salgueiro à direita, imputada produção a norte.

Travessa cantão popular da minha coleção
Atribuída a norte em tudo semelhante à caixa menos, no peso.
Portoa Fábrica de Augusto Bastos e Teixeira com vidrado caraquelê.
Foi a minha análise, sem ser especialista, apenas comandada pela paixão com muitas peças balançadas, ajudada por leituras e visitas a Museus.
Bem haja à Verónica Andrade pelo carinho da partilha, não sei onde mora, se for no norte não se iniba de procurar o Museu Soares dos Reis para a ajudarem na certificação da peça ou em Coimbra no Museu Machado de Castro onde um director já editou um Livro sobre a faiança portuguesa .
Seria uma grande contribuição para mais se saber da faiança portuguesa.
Mais uma vez emano agradecimento e votos de Boas Festas e mais aquisições como esta, que deixa qualquer um com o eu, natural de Coimbra com um niquinho de inveja...

domingo, 10 de dezembro de 2017

Faiança inglesa Diamond Marks 1882

Num estaminé de chão encontrei este prato, minutos antes tinha sido comprado numa banca com peças soltas de recheios de 3ª escolha. Apesar do seu estado, trouxe-o pela delicada pintura  do motivo; pássaros junto da paliçada de madeira de extraordinária beleza com ramos florais em minúcia na cor cinza, meia tinta e sombras e ainda pelo formato quinado.
Faiança de textura fina e peso leve.
No tardoz não lhe faltam marcas
Grande Depósito de Porcelanas e Faianças
21Rue Drouot "Paris"
Succursale
33 Rue St Ferreol
Marseille
Debalde não a consigo decifrar...

Graças ao comentário com a partilha gratuita de Fábio Carvalho
A marca é WOOD & SON" na linha inferior do in cavo. A conhecida Wood & Sons usou a marca assim, no singular, de 1865 a 1907. 
http://www.nationalarchives.gov.uk/help-with-your-research/research-guides/diamond-marks-trade-marks/

Diamond mark month codes

Month code Month
Month code Month
A December
H April
B October
I July
C January
K November
D September
M June
E May
R August
G February
W March
*R was used during 1-19 September 1857
*K was used for December 1860
*G was used for the month in place of W 1-6 March 1878

1865 a 1907

2 Year codes for 1868-1883 in alphabetical order

Year code Year
Year code Year
A 1871
L 1882
C 1870
P 1877
D 1878*
S 1875
E 1881
U 1874
F 1873
V 1876
H 1869
W 1878
I 1872
X 1868
J 1880
Y 1879
K 1883

A data de fabrico do prato será  06.12.1882
 
Um belíssimo prato que em Portugal a Fábrica Real de Sacavém e Alcântara reproduziram estampas de cariz semelhante, já o formato apenas o encontrei em faiança de Coimbra, que tenho um exemplar.

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...