terça-feira, 10 de março de 2015

Fábrica de Santo António do Vale da Piedade em amostragem

Assumida nesta paixão das velharias desde 2009 na constante amostragem da minha coleção e algumas peças de colegas, também pela partilha de algum saber, sem contudo grandes certezas na atribuição das peças, porque o são maioritariamente, sem qualquer marca, sem com isso medo ou receio de arriscar, antes pelo contrário, a idiossincrasia. Temática da faiança, peca ainda pela escassez de livros  em mostra insuficiente, contudo tem aparecido ultimamente mestrados de teor fascinante, que muito ensinam sobre a faiança portuguesa, na mostra de fragmentos que em definitivo podem revolucionar a visão mais clara e desafiante na catalogação de tanta peça tresmalhada  e mal atribuída em Museus e coleções particulares, que se associam estudos químicos, também pela abrangente vida nesse ambiente fabril, quando a escavação efetuada no seu espaço, ou em contextos diversos, como zonas antigas, portos, rios, etc.
Na minha mente muito viva  a vontade de mais alcançar, o maior desafio na temática das velharias que passa por desenvolver olhares sobre a faiança, cerâmica e o vidro, enquanto heranças do nosso passado, sendo muito próprias e nossas, de gosto peculiar, que despertam paixão,  pela policromia ou cor monocromática, também pela singularidade, ingenuidade dos desenhos, cores fortes ou desmaiadas, e pela história com estórias que encerram, sem jamais ficar queda ou medo de arriscar a minha visão pessoal, que nada tem de adivinhação, antes pré estudo, pese embora o erro  de atribuição sempre presente, porque há muito deliberadamente achei por bem começar  a sistematizar: análise de texturas, peso, cores, esmaltes, decorações, pormenores, visita a Museus onde supostamente se deviam encontrar peças bem catalogadas, espiolhando bancas nas feiras, sites de leilões e matriznet , no intuito de melhores certezas, sendo que a certeza, é  atribuição sempre rara, no intuito maior seja a certeza de a catalogar norte, centro ou sul. Aspirante sem pretensão a outro mérito que não seja evoluir, a que junto sempre muitas fotos, dicas, ideias simples de apresentação, pormenores de comparação de forma gratuita, no gosto de amostragem do que é realmente nosso ou não, mas neste País veio de alguma forma parar. 
Reconheço e valorizo o brutal esforço de qualquer trabalho de pesquisa, mas também a suposta ajuda do post " Museu Soares dos Reis"escrita em 15.06. 2013, no acréscimo em ganho e brilho...
Acaso útil, o que me pareceu sem dúvida alguma pela leitura ao me retratar, que o lapso de não ser mencionado, doí!
Mas vamos ao que realmente interessa.Corroboro o pensamento de Florbela Espanca "de tudo o que nós fazemos de sincero e bem intencionado alguma coisa fica"...Alguém escreveu " Porque uma maioria das pessoas são outras pessoas... Os seus pensamentos são as opiniões de outros; as suas vidas uma imitação; as suas paixões uma citação."
Ainda outro pensamento, este de Confúcio " Conte-me e eu vou esquecer. Mostre-me e eu vou lembrar. Envolva-me e eu vou entender." Prefaciando este pensar, desde sempre o meu gosto em partilhar saber, humildade em aprender mais, emendar e assumir erros, sem medo assumida falar e mostrar, as coisas que gosto, envolvendo emoções, sinto acabo de alguma forma por ensinar alguma coisa, disso recebo, constantemente satisfação e apreço de muita gente, claro há sempre inimigos...Sendo o certo destacar em seguir os nossos próprios sonhos, fazer um caminho só nosso, que não tem que ser solitário, mas deve ser individual, por isso jamais permiti que ninguém me  goze, critique, pise, ou me demova dos meus verdadeiros sonhos, pese embora os meus defeitos e teimosia, bem firmes e salientes ganhos no tempo de trabalho laboral a derrubar ideais pré concebidas, estigmas, conceitos e dogmas, na fúria maior do sucesso-, estratega profissional!
Fábrica de Santo António do Vale da Piedade 150 anos a laborar!
Sediada em Gaia, na frente do Douro, edifício esguio e belo pela frontaria azulejar e de  telhas esmaltadas, uma beleza ímpar apreciar em derrocada, a pena constatar!
Fotos do google
Em todo este longo  tempo decorrido nesta paixão, o que salta na frente?
  • A sorte de ser possuidor de uma peça desta fábrica -,SAVP!
Raríssimas as peças assinadas, supostamente o serão as de maior envergadura ; vasos, estatuária, animais, terrinas e travessas...
  • Neste compasso de pesquisa e aprendizagem é francamente positivo constatar haver pessoas que conseguem fazer a destrinça de peças, como sendo produção do norte-, apenas ainda divergem  a catalogação entre Miragaia,  SAVP, Pereira Valente, Darque e,...
Fotos retiradas do google SAVP
Terrinas no mesmo padrão cantão popular, revelam diferenças na distribuição do casario, vegetação, tonalidades de azul  e até no formato do pé. O que evidência terem sido produzidas por artistas em épocas diferentes. 
Acaso não estivessem marcadas, não sei se a atribuição o seria da mesma fábrica (?).
Desde o primeiro Congresso de Faiança Portuguesa e Internacional realizado no Museu de Arte Antiga, que aguardava ansiosa pela dissertação do Mestrado em Arqueologia de Laura Cristina de Sousa Peixoto . Bem haja pelo excelente trabalho realizado que trouxe à luz  imensos fragmentos de produção na fabrica, no caso só vêem acrescentar mais valia na credencia de certezas nas peças que  alguns  detêm nas suas coleções atribuídas, a norte. Neste agora com mais certeza, o serão efetivamente SAVP.
Há pouco mais de um mês deixei de comprar um prato, por culpa do vendedor que se mostrou irredutível em baixar o preço, e culpa minha, porque não me afirmei e o devia ter sido mais intempestiva, apelando ao bom senso e a outras compras no passado, com isso calei-me estupidamente, e o perdi...Não sabia a origem do prato, apenas senti e percebi que seria norte. Apaixonei-me pela pequenez do tamanho, gosto deles pequenos ou muito grandes.
As fotos são as possíveis da banca. Esteve pendurado anos a fio numa parede húmida, a aranha estava toda ferrugenta e o prato no tardoz igual, mas o esmalte exalava um brilho sem igual , no contraste da tonalidade azul  e laranja no contraste do manganês  e verde esbatido .
Vendido na feira da ladra. Descubram-no na banca...


Quatro exemplares com o mesmo motivo.Denotam as peças diferenças no brilho do esmalte e cores , o que evidencia produções no tempo distanciadas.(?) Sem desprestigiar, e se pudesse escolher ficaria com o prato que apresento na banca, a peça mais bonita, delicada em exuberância e brilho.

Foto de http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2015/01/uma-chavena-de-cha-de-santo-antonio-de.html
Contraste com o fragmento de uma chávena na SAVP.
Fotos retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa
Coleção do Museu Soares dos Reis- pires com decoração igual, pintado noutro tom de azul mais escuro,  ao meio a inscrição de alguém  que o inventariou na interrogativa  "Viana?"
Fragmentos resultantes da escavação em tonalidade azul mais escura
    Foto retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa
    Contraste da tonalidade azul com outras peças da minha coleção

    Outra peça  catalogada  norte, agora com grande segurança  serão SAVP(?)
    Jarra restaurada com cimento no pé...O mesmo esmalte brilhante.Vendi-a em Setúbal
    Prato irradia brilho espetacular,  frete pequeno e fino, catalogado Miragaia, mas pode ser com muita certeza SAVP.
    Cuspideira na banca de um colega, dizia ser Miragaia, com muita certeza SAVP (?)
    Malga da minha coleção , inicialmente atribui fabrico de Miragaia, analisando as carateristicas anteriormente já apontadas  do desenho e o frete do pé baixo, revelam com muita certeza SAVP ou Vilar de Mouros(?).
    Foto retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa
    Pequena malga com a flor chamada Miragaia de produção de SAVP , na escavação foram encontrados muitos fragmentos com esta flor. Também a mesma carateristica do frete no pé baixo. Pintada por dentro e por fora.Ainda há pouco tempo vi numa feira uma muito maior e,...
    Fragmentos de malgas da escavação SAVP, revelam o baixo frete do pé e os esponjados em azul
     
    Tampa relevada de terrina catalogada Miragaia. Esmalte brilhante, atendendo a pormenores como o esponjado, e o casario alto e o arvoredo cópia do modelo inglês ) da fábrica J.Meir & Son, reproduzido em terrinas com marca, pode ser SAVP (?)
    Jarra ou cabaça mutilada, pelo desenho encontrado nas escavações e pelo frete do pé com muita certeza SAVP(?)
     
    Fragmentos resultante da escavação na Fabrica  SAVP
    Pé de salva ou prato coedor, começou por ter  atribuição a Coimbra, depois norte, com muita certeza SAVP, pelo frete do pé, igual ao par das jarras acima e à decoração.
    Em baixo prato coedor  ou bandeja para escorrer cálices, atribuído a SAVP, veja-se a semelhança do pé com o friso vincado , que no padrão de esponjado não se nota tão bem como no meu.
    Foto retirada http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2013/11/sera-de-vale-da-piedade.html
    Bule de caldo ou caneca de doentes também atribuído a Miragaia, pela decoração e frete do pé será com muita certeza SAVP ou Vilar de Mouros (?)

    Bule também catalogado Miragaia. Tem uma curiosidade a tampa é de esmalte mais brilhante do que o bule, no caso casam bem, mas por certo não serão da mesma peça?O desenho, os pormenores do pagode e o frete do pé revelam ser com muita segurança SAVP ou Vilar de Mouros (?).

    Prato motivo cantão num desenho inglês Davenport, catalogado norte, Bandeira?
    Apresenta esmalte a estanho, mais baço, não faltam os tracejados, a janela no pagode e a árvore estilizada em altura o que pode evidenciar SAVP ou Vuilar de Mouros (?).

    No tardoz estranho o vinco quase ao meio da aba que existe noutras peças da mesma fábrica

    Terrina seguramente de fabrico norte, com motivo inglês shell  edged pearl ware, vastamente produzido por SAVP. Apresenta bom esmalte a chumbo, o pé da terrina é muito semelhante a congéneres assinadas da SAVP.
    Foto retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa
    Prato de grande dimensão  em policromia atribuído a Darque, pode ser SAVP segundo análise de cores nos fragmentos encontrados na escavação.
    Foto retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa
    Prato catalogado como Fervença, apresenta neste novo olhar carateristicas; manganês esbatido  e formato carenado na aba  pode ser SAVP?
    Prato da minha coleção em esponjado delimitado por filete mais escuro no limite do centro e do rebordo.Esmalte radioso,  pode ser  produção de SAVP(?)
    Carateristicas da pintura da SAVP, o mesmo do frete do pé baixo, quase redondo, como noutras peças, fabrico do norte concerteza.
    Foto retirada de A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade, em Gaia: arquitetura, espaços e produção semi-industrial oitocentista / Laura Cristina Peixoto de Sousa

    • Terrina com o mesmo pé, azul cobalto a claro e, a cercadura verde no formato decorativo usado, as pegas e os vincos no bojo, evidenciam fabrico do norte-, Caminha fabricou semelhantes.
    Sintam  diferenças no mesmo motivo de fábricas diferentes com marca
    Fotos retiradas do google 
    Travessa Miragaia assinada
    Travessa SAVP
    Travessa  pela cercadura será com muita probabilidade SAVP 
    Foto retirada de http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2012/11/miragaia-vs-santo-antonio-de-vale-da.html
    Travessa à venda no OLX como Miragaia , será Corticeira, Aveiro ou outra origem pelo formato mais moderno (?) Tardoz de esmalte grosseiro, baço.De desenho ingénuo interessante.

    Outras notas importantes na SAVP ao longo da sua laboração e dos pintores que passaram pela fábrica:
    • Na última travessa  assinada o tardoz em craquelê
    • Vários tons de esmalte desde o muito branco, brilhante a chumbo, mas também mais baço a estanho.
    • Várias tonalidades em azul do mais carateristico azul aberto ao mais escuro.
    • Várias formas de pintar as árvores e o casario
    Afinal é bem mais fácil ter uma  peça SAVP, do que Miragaia, Fervença ou Vilar de Mouros, com isso se esvai o orgasmo inteletual em muita boa gente, sentir o dia  de uma possuir,  sendo que a tem há muito!
    O trabalho apresentado na dissertação de mestrado, com o estudo das peças que muitos poderão a título de empréstimo ceder,  a hipótese de nascer um bom livro sobre a Fábrica de Santo António do Vale da Piedade- o sucesso que os amantes da faiança portuguesa por certo muito apreciar. 
    Fontes
    http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/75570/3/72863.1.pdf
    http://tempohistorias.blogspot.pt/2013/08/terrina-de-santo-antonio-do-vale-da.html
    http://velhariasdoluis.blogspot.pt/2015/01/uma-chavena-de-cha-de-santo-antonio-de.html
    http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2013/11/sera-de-vale-da-piedade.html
    http://artelivrosevelharias.blogspot.pt/2013/11/sera-de-vale-da-piedade.html
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    Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

    Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...