terça-feira, 24 de junho de 2014

Bule de Alcobaça ou Coimbra (?) atribuído a José Reis

O meu olhar deleitou-se neste pequeno bule -, uma graça, que me catapultou para a infância numa banca de feira de Paço d'Arcos do Hermínio e do Paulo-, na despedida disse-lhes com sorriso maroto " este bule é a minha cara"...

Para quem conhece mal a olaria de Alcobaça supostamente teriam sido os monges de Cister, os oleiros da sua própria loiça malagueira de cariz conventual-, porque barreiros de primeira qualidade não faltavam nas imediações, que séculos depois viria a ser transportada em carros de bois de passo pachorrento para Coimbra e para a Figueira da Foz, para seguir para o norte, para os cais de Gaia e Porto .
Sendo que o mercador, oleiro e pintor José Reis, decide seguir as pisadas de um outro -, um tal Fonseca, que anos antes se mudou para o Juncal.
José Reis decide mudar da cidade do Mondego para Alcobaça em 1875 onde funda a sua olaria  que labora até 1900 -, quando morre. 
O Dr. Jorge Sampaio fala do José Reis, como sendo apenas mercador, que levava a loiça de Coimbra para Alcobaça. Mostra-se difícil de aceitar esta teoria ao se pensar que não sendo oleiro como poderia abrir uma olaria? E começar a trabalhar, e a dar continuidade da pintura que se pintava nesse tempo em Coimbra? Mais, viria a concorrer a uma exposição onde apareceu um belo prato, muito bem conseguido em cor de rosa com casario e aba cortada em traços. 
Sabendo que as técnicas sendo várias em trabalhar o barro e nas suas misturas, decantar, secar,moldar, cozer em chacota, pintar ,nova cozedura para vidrar com estanho ou chumbo e,...
Bem, eu não acredito, até porque não era oleiro quem queria, tinha de ter licença e muitos não passavam! 

A filha de José Reis decide alugar a olaria ao Manuel da Bernarda  que continua a laborar na mesma tradição e moldes do antecessor, mais tarde com os filhos criam a OAL. Paralelamente proliferam imensas fábricas na zona que marcaram uma época em pratos de decoração vazados(com buraquinhos na aba) com versos, também jarras, caixas e outros biblots de cores berrantes com dourados, onde predomina o azul forte, rosas e amarelo, que uma maioria desprestigia e não devia, embora também não sejam do meu encanto, considero as do Raul da Bernarda copiosas na sua maioria e delicadas.
E é esta produção que faz parte de gerações como a minha que desprestigia a olaria de Alcobaça que tem muita qualidade, nomeadamente de José Reis e OAL -, faiança de qualidade, e riqueza, nada atrás da feita em Coimbra no século XIX , sendo esta ainda muito mal estudada (?).
Nesse pressuposto há peças de inegável valor. Aconselho a uma visita ao novo Museu em Alcobaça com a coleção do pai do Dr Jorge Sampaio onde vão encontrar peças que se não estivessem assinadas se dizia à boca cheia que seriam fabrico de Coimbra.
Há contudo sempre algumas dúvidas nas peças não identificadas-, no caso d'hoje saber se as peças que acredito sejam do autor José Reis se o são do tempo que esteve em Coimbra ou já em Alcobaça. 
O bule apresenta uma pintura monocromática em azul e aguada com motivo casario ladeado por arvoredo sob rodapé em esponjado.
Filete fino contorna o pé e o bocal. O bico pintado em dedadas que terminam afuniladas.
A tampa ligeiramente elevada ornada a filete largo em aguarda contornado por filetes finos em azul. O mesmo na pega.
Fui busca-lo hoje à Ladra! Foi um dia de emoções apaixonante!

Na ideia da parelha com o canjirão  ou leiteira mui semelhante

O canjirão ou leiteira
http://leriasrendasvelhariasdamaria.blogspot.pt/2012/05/canjirao-ou-leiteira.html

O esmalte do bule é mais parecido com este pratinho de casario diferente, também típico à época que  aventa ser produção de Coimbra(?) por se apresentar amarelado, cor de grão.
Os vendedores que conhecem pessoalmente o  Dr Jorge Sampaio,  diretor do Museu do Mosteiro de Alcobaça ,disseram-me que ele defende a opinião que este tipo de casario alto é a imagem do Mosteiro de Alcobaça (?) -, o que incita a dizer que se trata de produção de Alcobaça do José Reis (?).
Mas em Coimbra as torres altas já se pintavam... Mas deste belo prato falarei adiante. 
O esmalte é ligeiramente diferente na tonalidade-, sendo o bule de esmalte mais amarelo(cor de grão) que me dita Coimbra (?) e a leiteira mais branca.
O pé das peças é diferente.
As asas de ambos também são diferentes, sendo que a da leiteira apresenta apenas um friso longitudinal ao meio, e o bule dois vincos.
A leiteira apresenta dois frisos  relevados acima do pé como era usual nas canecas direitas.
O desenho mui semelhante e a cor.
Aventa hipótese de fabrico pelo mesmo oleiro e pintor em fornadas diferentes no espaço de tempo(?)
  • Serão as peças fabrico de Coimbra, ou Alcobaça (?) porque uma terceira julgo não exista.
Espero tenham ficado roidinhos de inveja ( que maldade) , estou naturalmente a brincar com esta peça delicada por fazer sonhar como se fosse um "tete á tete" -, eu e tu a beber chá ...você e ela ...ela e você...Enfim amantes felizes!

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