terça-feira, 2 de julho de 2013

Faiança de Aveiro casario pintada à lastra

Pequena travessa graciosa pintada à mão de aba relevada feita à lastra pintada com casario verde
  • Escolhi-a na banca da minha minha amiga Isasay depois de lhe ter ofertado um penico e uma toalha em linho.
  • O motivo central sobejamente conhecido por casario ou inspiração oriental com o típico pagode bordajado por salgueiros e pessegueiros, ainda no alto da torre a bandeirola símbolo de riqueza dos chalets dos primeiros emigrantes enriquecidos no Brasil que construíram acima de Coimbra.
A travessa foi pintada no motivo central à mão em tom verde ervilha.O fundo revela uma tonalidade cor de rosa mais predominante nos relevos da textura da aba.


Tardoz da travessa que posto
Do lado direito do pagode(?) há uma vegetação com dois ramos descaídos com folhagem que me chamaram à atenção. No dicionário de marcas há uma marca atribuída a CAMINHA cujo símbolo eram dois ramos entrelaçados muito semelhantes a estes - com data de 1846/54 - atribuído à fabrica José Martins Rua.Se juntar que os irmãos Ruas ou Rua pintaram à imagem da faiança de Coimbra e de Darque onde trabalharam.Também as cores predominantes eram precisamente o verde ervilha e o rosa .
  • Mas não se trata de faiança de CAMINHA -, sim de AVEIRO
Das fábricas : Prantos e Moreira Lda ou Fábrica das Leirinhas de Manuel Vitória.

  • O meu bom amigo Jorge Saraiva, na estima aprecio o trato JS da Oficina da Formiga em Ílhavo enviou-me esta mensagem no facebook que transcrevo:
...em relação à travessa que postou, envio uma igual (?) feita aqui em Aradas pelo pintor António Carvalho, que também pintava Cantão ou China (designação usual para o desenho da travessa que postou), mas não encontrei nos meus parcos arquivos o mesmo desenho, por isso, deixo-lhe mais estes dados.
  • A fábrica era a João Gomes Gonçalves da Vitória, Lda (de alcunha o "Jarreto") em Aradas.
  • Também num dos seus posts do ano passado referiu esta família, que até hoje ainda está ligada à cerâmica pela Primus Vitória, SA:
"Há conhecimento da existência de oficinas de olaria em Aradas pelo menos desde finais do século XIX.
  • Em 1923, Manuel Gonçalves da Vitória e Manuel Gonçalves Vitória Machado constroem em Aradas a primeira fábrica de louça branca . Anos depois em 1931 foi dissolvida.
  • Nesse mesmo ano João Gonçalves Machado fundou nova fábrica nas Aradas e Manuel Gonçalves Vitória Machado veio a fundar outra em 1955.
  • Ao longo da década de 30 apareceram ainda as fábricas de louça de João Vitória e João Moreira."

Segundo o meu pai, na sua opinião ambas as peças -, a minha e a que postou foram feitas à lastra  terão sido produzidos numa das empresas:
Prantos & Moreira Lda  de Aradas
Fábrica das Leirinhas de Manuel Vitória.
  • Em Aradas existiam muitas pequenas unidades e poucas marcavam as peças-, faziam louça barata e pobre em termos de decoração (os esponjados por exemplo)
Peças feitas à lastra - o processo é simples, basta ter um molde em gesso da parte interior do prato ou travessa e fazer uma lastra de pasta com rolo da massa. Depois elevar a lastra feita e colocá-la sobre o molde de gesso. Calcar a lastra com uma "boneca de pano com o interior em esponja ou pano" para fazer contactar bem a lastra de pasta com o molde. De seguida recortar pelo perfil do molde e se for para levar frete, faz-se um rolinho de pasta  que se coloca no perímetro onde se pretende que fique -, unir com os dedos para que este faça parte integrante da peça e deixar secar lentamente. Quando ganhar a consistência de couro e já tiver retraído e descolado do molde, retira-se deste (que irá ser usado novamente) e fica a fazer a secagem final.É um processo para produção de pequenas quantidades de peças ou usado em oficinas com pequenos recursos.

  • Claro que o Cantão por estes lados de Aveiro foi pintado principalmente em azul...
  • Fotos de chapas em folha de Flandres?

Era muito fácil e rápido copiar (chapar, como se pode designar) estas formas para o fabrico em série.
  • Citando o comentário do JS
" Apercebi-me agora da confusão sobre chapar uma peça. Esta designação tem a ver com copiar um modelo (formato) de uma peça. Se alguém quer produzir uma peça para ficar igual a outra já existente, um modelador terá de manufacturar um modelo em gesso com as compensações de tamanho (dependendo do tipo de pasta que irá ser usada [faiança, grés ou porcelana])por causa das respectivas retracções (diminuição de tamanho que a peça irá sofrer no seu processo de fabrico, que são diferentes para cada tipo de pasta). Assim o modelo novo terá de ser maior, para que no final se obtenha a peça no tamanho igual ao pretendido. 
Quando se deseja obter uma peça igual, mas podendo ser mais pequena no seu tamanho, usa-se a própria peça como modelo, sabendo que depois se irá obter uma peça mais pequena e que os relevos que eventualmente esta tenha, no final, irão ficar menos salientes ou disfarçados. 
É um processo mais rápido e mais barato a que se designa, na gíria, de chapar uma peça.."
  • As "chapas" normalmente em Aveiro chamam-se estampilhas. Se bem que em diversas fábricas faziam-se em chapa (folha de flandres) e eram usadas para pintar com aerógrafo, como na Fábrica de Sacavém.
  •  A travessa com o motivo do moinho foi pintada pelo Mestre Flamínio Reis em 1968.
  • A travessa que o JS gentilmente enviou é de fabrico mais recente com um motivo mais minalista e pelo vidrado que se apresenta esquartejado, enquanto a minha pelo esmalte e pintura é seguramente será mais antiga década 20/30/ (?).
  •  Tem em comum a textura relevada da aba feita à lastra , os recortes do bordo e o frete no tardoz.

Interessante é constatar que  até reparei e escrevi que a bordadura da aba se apresenta  ondulada e relevada - graciosidade que viria a ser inspiração depois na porcelana Vista Alegre, para onde foram trabalhar alguns oleiros após terem fechado as fabriquetas onde laboravam.
  •  Seguramente a travessa é fabrico de Aveiro-, vem mais uma vez engrandecer o fabrico de loiça  que já era vasto, agora ainda mais graças ao JS se descobriu a sua origem erradicando o norte como centro de produção. 
Em baixo um covilhete de fabrico de Coimbra onde se notam evidencias de copianço na cúpula.
Jorge Saraiva, o seu contributo é sempre uma mais valia para o conhecimento da  nossa faiança .
  • Aveiro está a crescer na descoberta com mais duas fábricas e mais esta particularidade de "peças feitas à lastra" que já vi no matriznet várias designadas produção (?) norte.
Assim a sua terra dá cartas na busca da verdade desta verdade que é conhecer a nossa faiança. 
Gosto de opinar dando sugestões com interrogação, tenho errado, e vou alterando sem vergonha ou complexos -,antes fico orgulhosa de ter bons amigos que me ajudam , ensinam e partilham a sua sabedoria como o JS. 
  • Bem haja meu amigo extensivo ao seu querido pai-, um homem sábio que sei trabalhou em fábricas destas, acabando na de S. Roque-, espero não ter cometido uma inconfidência. Acho oportuno rematar o post com a sabedoria de um homem artificie -, que sabe o que diz, e claro o filho seguiu-lhe as pisadas.
  • Adorei o carinho da sua mensagem...logo o meu  "velhote" vem cá a casa, vou-lhe mostrar as fotos...

4 comentários:

  1. Olá Maria Isabel, pois nãotem que agradecer... Olhe a travessa do moinho foi pintada por ele (Flamínio Reis http://www.youtube.com/watch?v=r3MD1J7RYPw)em +-1968 e as "chapas" normalmente, por cá, chamam-se estampilhas. Se bem que em diversas fábricas faziam-se em chapa (folha de flandres) e eram usadas para pintar com aerógrafo, como na Fábrica de Sacavém. Bjo, js

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  2. Caríssimo JS sempre a acrescentar mais sabedoria.
    Amanhã vou completar, tenho de ir tratar do jantar, a filhota de caminho chega para jantar.
    Bjo

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  3. Apercebi-me agora da confusão sobre chapar uma peça. Esta designação tem a ver com copiar um modelo (formato) de uma peça. Se alguém quer produzir uma peça para ficar igual a outra já existente, um modelador terá de manufacturar um modelo em gesso com as compensações de tamanho (dependendo do tipo de pasta que irá ser usada [faiança, grés ou porcelana])por causa das respectivas retracções (diminuição de tamanho que a peça irá sofrer no seu processo de fabrico, que são diferentes para cada tipo de pasta). Assim o modelo novo terá de ser maior, para que no final se obtenha a peça no tamanho igual ao pretendido. Quando se deseja obter uma peça igual, mas podendo ser mais pequena no seu tamanho, usa-se a própria peça como modelo, sabendo que depois se irá obter uma peça mais pequena e que os relevos que eventualmente esta tenha, no final, irão ficar menos salientes ou disfarçados. É um processo mais rápido e mais barato a que se designa, na gíria, de chapar uma peça. Peço desculpa de não me ter apercebido que estava a lançar confusão. Bjo, js

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  4. Caríssimo JS mais sempre em grande.
    Já acrescentei a sua sabedoria sobre "chapar" e o vídeo do Mestre Flamínio Reis.
    Gostei francamente deste post.
    Nunca imaginaria que fosse tão dinâmico, sobretudo assertivo na conclusão.
    Claro só possível com a sua sincera, e disponível ajuda que muito me honra.
    Bem haja
    Bjo

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