terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fábrica Cavaco(?) motivo Peixe

Há que tempos ando para comprar um prato com o Peixe pintado ao centro...a fazer lembrar o tempo em que os cachopos na roda da bacia assente no tripé com o aferventado de nabos  diziam em voz alta - n'nha mãe onde está o peixe? resposta escorreita - está no fundo do prato...estava mesmo - mas pintado - grande a criatividade dos oleiros naquela época de extrema  pobreza.

Encontrei-o prostrado num estaminé de chão na feira de Montemor o Novo - senti que o colega - Sr Carlos  me ludibriou - acha-me com cara de dinheiro! A doidice da compra  já vinha de casa, ao chegar à feira soube que o Sr Orlando estava no hospital - coitado do "cigano", e de mim que me convenci que ele me trazia o prato com o Peixe que há meses deixou cair do tripé - lindíssimo em cores claras talves Vanderlli igual antes já vira outro maravilhoso por 200€ ...fiquei triste pela maleita que o acometeu, também por não o trazer - tal transtorno estrangulou-me o raciocínio - estive com poucas  modas no regateio quando encontrei mais acima este - não sendo o meu favorito remediou a minha amargura naquele dia de grande expetativa!
Tardoz com evidencia de escorridos do esmalte. Possivelmente fabrico dos finais do século XIX início de XX.Na foto abaixo nota-se o escorrido do esmalte que falei.

Apresenta um "cabelo" com decoração em policromia com um peixe ao centro em duas tonalidades:verde e amarelo, linhas em manganês a imitar guelras, e o olho de sobrancelha arregalada - barbatanas a ocre - à sua volta estrelas em azul. Aba em estampa de flores: amarelo ocre e azul e motivo geométrico de chapa recortada em manganês.
Vejam-se as semelhanças no esmaltado em tom rosado no prato e na travessa - tantas peças que tenho e nada assim igual!

Tenho muita dificuldade em atribuir a origem de fabrico deste prato tal o mesmo se aplica à travessa que adquiri há tempos.O vidrado é igual. Agora saber a sua origem? A travessa com folhagem fina evidencia fabrico de Coimbra (?) ou norte - constato uma delicadeza na pintura - sem dúvida. O que me intriga é mesmo a cor rosada do vidrado que no caso da travessa ainda se acentua mais na aba impregnada no martelado da massa . A fábrica CAVACO em Gaia pintou este motivo  - aparecem muitos pratos pequenos - acredito muitas outras fábricas seguiram o mesmo desenho - Aveiro, Bandeira ( num prato abaixo o olho do peixe é igual), e outras pelo norte.

A minha intuição diz-me poder ser fabrico CAVACO - em tempos vi uma travessa assinada com o mesmo vidrado...desenho do olho... tonalidade em manganês.

Cortesia do conhecimento do Jorge Saraiva um assíduo comentador e bom amigo - passo a transmitir, muito engrandece este post sobre a dúvida que levantei - aspeto rosado

"A faiança mais fina (séc. XIX e início do XX) era chacotada ou biscoitada, ou seja, após a conformação era seca, cozida, posteriormente vidrada, e decorada em cima do vidrado cru ou cozido com decalques e/ou tintas de baixo fogo. A faiança mais grosseira (alguns pratos de maior espessura e as palanganas, por exemplo)eram manufacturadas em monocozedura, ou seja eram conformadas, secas, vidradas e pintadas sobre o vidrado cru - de seguida cozidas, em forno a lenha, pois claro.Uma coloração mais rosada de uma peça -, é uma característica de peças de monocozedura que não atingiu a temperatura de cozedura adequada -, não tendo a pasta desenvolvido a coloração branca -, o normal é o vidrado ficar mate (não brilhante). Portanto essa coloração não tem a ver com a cor do vidrado mas sim do suporte cerâmico. Os vidrados dessa época eram como os que apresenta, desenvolviam opacidade (para tapar a coloração da pasta) e brilho -, eram à base de óxido de estanho (opacificante) e de óxido de chumbo (zarcão) para desenvolver o brilho. As caixas refractárias onde eram colocadas as peças para as proteger dos gases e facilitar a enforna das peças nos fornos a lenha também impediam uma homogeneização da temperatura dentro do forno tal como a própria medição da temperatura era a "olho" (olhavam para dentro da cúpula do forno quando estivesse de cor laranja límpido, deixava-se de colocar lenha. Ora a lenha, o forno, as caixas, etc, davam origem a diferenças de temperatura que poderiam ser superiores a 40ºC  - o que fazia que em cada fornada saíssem peças óptimas e brilhantes, bem como peças com vidrado fervido, outras tortas (pelo excesso de temperatura), ainda peças baças, e rosadas (por não terem atingido a temperatura óptima).
Portanto -, discutir e comparar cores e texturas de vidrados (e a intensidade das cores da decoração) para deduzir a proveniência de uma peça comparando com outras pode levar a erros visto que em cada fornada saiam sempre peças com características diferentes. 

Espero ter contribuído para aumentar a "confusão" ou "discernimento" da proveniência da faiança antiga..."

Alguns exemplares para apreciação
Este é da minha coleção
PRATO COM PEIXE FAIANÇA DO NORTE
Fábrica Cavaco de Gaia apesar de não estar assinado ninguém tem dúvidas
Prato Viuva Lamego com peixe ao centro
Viúva Lamego assinado
Museu Arte Popular - Fabrico do Minho

Foto retirada de leilão Fábrica Bandeira ? 


Museu da Cerâmica - Fábrica da Bandeira


Museu Arte Popular - Fabrico do Minho - eu diria de Coimbra pelos traços ao alto na aba


Vou continuar a procurar mais elementos de sustentabilidade para atribuição segura do seu fabrico.

Faiança do norte de Gaia com flor de avenca a imitar o Juncal

Grande prato em faiança com motivo decorativo simples- ramos de avenca. Numa primeira impressão diz-se que é produção do Juncal. Numa s...